1ª Estação – Ramessés - Parte 03

quinta-feira, 1 de outubro de 2009


As 42 Jornadas no Deserto

1ª Estação – Ramessés - Parte 03
Texto: Nm 33:1-4

Por Luiz Fontes

Ramessés, a primeira estação da peregrinação do povo de Deus no deserto, representa uma condição de verdadeira escravidão. É nesta estação que se revelam as nossas transgressões, os nossos pecados, o poder do pecado e o mal que existe dentro de nós. O pecado faz referência à natureza pecaminosa, escrava; a natureza que herdamos de Adão.  Com exceção do Senhor Jesus, todos nós herdamos a natureza pecaminosa. O pecado é algo muito grave em nós. Quando olhamos para a questão do pecado, dos pecados e do pecador, à luz da Bíblia, vemos que este assunto é muito sério. Porque se estudarmos sobre a libertação do povo de Israel do Egito, veremos que sair de Ramessés não significa apenas sair da culpa.  Precisamos ser libertos do que fizemos, mas também daquilo que somos; da nossa natureza humana.
A raiz do pecado, dos pecados e dos pecadores deu origem há um sistema, há uma civilização que se chama “Mundo”.  Mas Deus, através da Sua Palavra, deseja nos livrar do poder desse sistema mundano. A Bíblia não só nos fala de sermos libertos dos pecados, mas também, do pecado (no singular), do velho homem, da carne, de nós mesmos e também do mundo. Mas, o sistema mundano tem principados e potestades. Isto significa que precisamos ser libertos desses principados, do príncipe deste mundo e das potestades. O Egito representa o mundo espiritual, isto é, o mundo no aspecto maligno. Esta é a sua expressão natural aqui na Terra. Podemos ver que o mundo, através de Ramessés, expressa também o modo de vida do homem natural, do homem caído, do homem vendido ao poder do pecado. Portanto, vemos que Ramessés tipifica uma situação muito complexa.
Se quisermos fazer um estudo mais profundo sobre Ramessés, precisamos estudar do capítulo 1 ao capítulo 12 do livro de Êxodo.
Sair de Ramessés não é uma coisa tão simples, por isso necessitamos que Deus, com as Suas mãos poderosas, intervenha a nosso favor. Só através do Seu poder, podemos verdadeiramente sair do mundo. Esta é uma obra do Senhor em nós: libertar-nos do poder do mundo, da culpa, do pecado e dos pecados. Por isso, temos que estar saindo, saindo e saindo! Nós temos que sair! É lógico que na progressão cristã saímos de uma situação e entramos noutra, mas antes de qualquer avanço, precisamos sair do mundo. Não podemos permitir que o mundo, enquanto poder, nos governe e nos controle.
Olhando alguns textos nas Escrituras, podemos ver aspectos interessantes quanto a este assunto. No Livro de Romanos, encontramos o aspecto dos pecados, que são as transgressões que nós cometemos e das quais precisamos ser perdoados pelo Sangue de Cristo. Depois, vemos a questão do pecado e da Lei do pecado em nossa carne. Nos primeiros versículos desta Epístola, Paulo mostra a condição caída do homem. No capítulo 3, ele trata do assunto da nossa transgressão. E no capítulo 4, versículo 7, ele diz assim:

Bem-aventurados aqueles cujas iniqüidades são perdoadas, e cujos pecados são cobertos” – Rm 4.7.

Neste capítulo, Paulo segue falando no plural: “de iniqüidades, transgressões, de pecados”. A princípio, fala dos pecados, isto é, das coisas más que nós cometemos. Então, qual é o remédio para sermos livres, perdoados dos pecados? Olhemos para Ramessés. Voltemos para Êxodo e veremos que em Ramessés o Senhor preparou para o Seu povo a Páscoa. Preparou o derramamento do sangue do cordeiro, para que o povo fosse liberto da condição de escravidão no Egito. Mas, não só havia de ter o sangue. Havia de se fazer algo mais. Eles tinham que comer o cordeiro, isto é, havia de constituir-se com o Cordeiro ou com aquilo que era o Cordeiro. Esse não é somente um aspecto judicial, jurídico, objetivo, mas também, um aspecto orgânico, experimental e subjetivo.
Objetivamente, diante de Deus, nossos pecados foram apagados pelo Senhor Jesus lá na Cruz. Seu Sangue nos limpa do poder do pecado em nossa consciência; isto, Ele realizou lá na Cruz. Mas agora, este Cordeiro que derramou Seu Sangue, deve ser também partilhado por nós. Todos nós vivíamos no mundo, um mundo onde estávamos completamente ocupados. Como também em Ramessés, o povo do Egito ou o povo de Israel estava fazendo tumbas em forma de pirâmides.
Olhe para o início do livro de Gênesis: “No princípio criou Deus os céus e a terra”. Esta é uma passagem linda, preciosa. Porque tudo que estudarmos na Escritura Sagrada, concernente ao caráter, propósito e mente de Deus, está neste versículo: “No princípio criou Deus os céus...”. No princípio, Deus. Agora veja como termina o livro de Gênesis, no capítulo 50, versículos 25 e 26:

“José fez jurar os filhos de Israel, dizendo: Certamente Deus vos visitará, e fareis transportar os meus ossos daqui. Morreu José da idade de cento e dez anos; embalsamaram-no e o puseram num caixão no Egito”.

Tudo começa maravilhosamente bem em Gênesis 1.1, todavia, termina com os ossos de José mumificados em ataúde, no Egito. Mas José pediu para os seus irmãos que não deixassem seus ossos no Egito, mas que os levassem de volta e os enterrassem na terra de seus pais. Sabem por quê?  Porque José aguardava a ressurreição. O início de Gênesis é lindo, porém, o final é terrível. No Egito estão os ossos, as múmias e ataúdes. O Egito simboliza a nossa condição de pecadores, naturalmente irrecuperáveis, escravos do príncipe deste mundo e submissos aos principados e potestades das trevas. É dessa condição aterrorizante que Deus deseja libertar todos os seus escolhidos através da Obra da Salvação em Cristo.
A Palavra do Senhor fala de sair de Ramessés através da Páscoa. No entanto, essa saída envolvia várias etapas. Primeiro, tinham que colocar-se debaixo do Sangue. Segundo, teriam que comer o cordeiro com ervas amargas, e com pressa, porque não poderiam deixar nada para o dia seguinte. E logo após a saída, tinham que se despojar do Egito. Eles tinham que caminhar e cruzar o Mar Vermelho.
A condição da nossa carne, da nossa vida no mundo, é algo muito sério à luz da Palavra de Deus. Por isso, precisamos entender que a Igreja é um espinho na carne de Satanás, e tem lhe causado um grande desconforto, reduzindo a sua liberdade neste mundo. Mesmo estando no mundo, a Igreja, não apenas, deve recusar-se a cooperar com o desenvolvimento da obra de Satanás, mas também, precisa persistir em proclamar o Juízo de Deus sobre as obras das trevas, sobre o próprio Satanás. É por este motivo que a nossa vida em relação às coisas do mundo deve ser vista à luz da Palavra de Deus. Todos nós, que estamos debaixo do Sangue de Cristo Jesus, precisamos estar cientes quanto à nossa condição em Ramessés.
Assim, começamos a compreender melhor a relação da Igreja com o mundo. Temos que saber que a Igreja é uma constante fonte de irritação para o mundo.  A Igreja está aqui como luz, confrontando o mundo que está em trevas. Então, do mesmo modo, o mundo é uma fonte constante de aflição para o Corpo de Cristo. Veja que o mundo está sempre desenvolvendo a sua capacidade de afligir e perseguir a Igreja do Senhor Jesus. Mas, a Igreja sempre deverá caminhar em expansão, progredindo nas suas jornadas espirituais. A Igreja tem que confrontar as forças do mundo. A Igreja tem sido perseguida durante toda sua história, embora a nossa situação em relação ao mundo e as obras das trevas sejam diferentes daquela dos primórdios da sua história, quando os filhos de Deus enfrentavam uma perseguição aberta, na forma de ataque físico. Podemos confirmar esta verdade em At 12 e 2 Co 11.
Esses irmãos eram constantemente confrontados com coisas materiais, coisas tangíveis, mas hoje, a principal estratégia de satanás tem sido a de utilizar as sutilezas do sistema mundano para afligir a Igreja. Paulo nos fala no capítulo 6 de Efésios, sobre “as astutas ciladas”. A palavra “cilada” (methodeia no grego) fala da maneira sutil como o inimigo trabalha e tem procurado nos atingir. Satanás tem lançado mão de uma força intangível por trás das coisas materiais, mas que na realidade é espiritualmente perversa e maligna. O impacto desta força espiritual, hoje, é ainda maior do que nos primórdios da história da Igreja. E não apenas é maior, mas há também um elemento presente, agora, que nós não encontramos nas primeiras perseguições enfrentadas pela Igreja do Senhor Jesus. Observem que no capítulo 9 de Apocalipse, versículos do 1 ao 4, o Apóstolo João nos fala de algo que ainda iria acontecer no futuro:

“O quinto anjo tocou a trombeta, e vi uma estrela caída do céu na terra. E foi-lhe dada a chave do poço do abismo.  Ela abriu o poço do abismo, e subiu fumaça do poço como fumaça de grande fornalha, e, com a fumaceira saída do poço, escureceu-se o sol e o ar.  Também da fumaça saíram gafanhotos para a terra; e foi-lhes dado poder como o que têm os escorpiões da terra,  e foi-lhes dito que não causassem dano a erva da terra, nem a qualquer coisa verde, nem a árvore alguma e tão-somente aos homens que não têm o selo de Deus sobre a fronte”.

Os capítulos 7 e 14 de Apocalipse nos revelam “a marca do povo de Deus”. Já o capítulo 13 de Apocalipse nos fala da “marca do povo do Anticristo”; uma geração que será marcada e dominada por ele, principalmente através do seu comércio. Em Apocalipse 9.1 vemos a estrela caída do céu como uma figura de linguagem que, de forma clara, se refere a Satanás; e o abismo sem fim é o seu domínio, o lugar do seu governo e de sua administração. Podemos dizer claramente que apesar de aparecer no final dos tempos, essa figura está marcada por uma especial liberação dos seus poderes, de suas forças. E os homens encontrar-se-ão lutando contra um poder espiritual que jamais tiveram que lutar antes. Embora isso esteja de acordo com a realidade dos nossos dias - apesar de ser verdade que a violência e o pecado serão cada vez maiores no final desta Era -, está evidente na Palavra de Deus que não será apenas contra estas coisas que a Igreja terá que lutar. Mas, principalmente, contra o apelo espiritual nas coisas do nosso dia-a-dia.

Lucas, capítulo 17, versículos 26 a 30, nosso Senhor diz assim:

“Assim como foi nos dias de Noé, será também nos dias do Filho do Homem. Comiam, bebiam, casavam e davam-se em casamento, até ao dia em que Noé entrou na arca, e veio o dilúvio e destruiu a todos. O mesmo aconteceu nos dias de Ló: comiam, bebiam, compravam, vendiam, plantavam e edificavam; mas, no dia em que Ló saiu de Sodoma, choveu do céu fogo e enxofre e destruiu a todos. Assim será no dia em que o Filho do Homem se manifestar”.

Embora o Senhor Jesus afirme que o dia em que o Filho do Homem se manifestar será como nos dias de Ló e semelhante ao dia em que Noé entrou na arca, é preciso compreender que essas coisas (comida, casamento, negócios, agricultura, construção...) não são em si mesmas pecaminosas; são simplesmente coisas que estão no mundo para serem realizadas e desfrutadas. Na verdade, a advertência do Senhor Jesus é sobre o lugar que estas coisas ocupam em nossa vida. Será que temos prestado atenção a esta admoestação? Ter boa vida, conforto, fartura de alimentos, um vasto vestuário, parece ter se tornado a principal preocupação dos filhos de Deus. Para muitos cristãos, perguntas como: “O que comeremos? O que iremos beber? Ou, o que temos que vestir?”, são assuntos que dominam as suas conversas e governam as suas vidas.
Precisamos, urgentemente, olhar para a Palavra de Deus, porque estas questões exercem um forte poder sobre a nossa vida, fazendo-nos considerar tais assuntos tão importantes que acabam por inquietar o nosso espírito. Não podemos deixar-nos dominar. Nossa existência natural clama para que estejamos presos a tudo isso. Todavia, as Escrituras nos alertam para o fato de que “o reino de Deus não é comida nem bebida, mas justiça, e paz, e alegria no Espírito Santo” - Rm 14.17. A Palavra de Deus também nos exorta a buscar “em primeiro lugar, o seu reino e a sua justiça, e (nos assegura que) todas estas coisas vos serão acrescentadas” – Mt 6.33. Também nos adverte a “não andarmos ansiosos”. Observem o texto abaixo:

Por isso, vos digo: não andeis ansiosos pela vossa vida, quanto ao que haveis de comer ou beber; nem pelo vosso corpo, quanto ao que haveis de vestir. Não é a vida mais do que o alimento, e o corpo, mais do que as vestes?” – Mt 6.25.

 Para concluir, vamos ver o que Paulo disse para os irmãos de Filipos:

Não andeis ansiosos de coisa alguma; em tudo, porém, sejam conhecidas, diante de Deus, as vossas petições, pela oração e pela súplica, com ações de graças” – Fp 4.6.

Se Deus cuida das flores do campo, dos pássaros e do ar, muito mais Ele cuidará de nós, que somos Sua propriedade. Aqui está uma questão que merece uma ênfase especial. Esse estado de coisas, às vezes, tem sido anormal na nossa própria conduta, na nossa própria vida. A excessiva atenção que se dá à própria vida, seja nos extremos da subsistência ou do luxo, tem caracterizado a vida de muitos cristãos em nossos dias. Este fato está muito longe de ser normal; é sobrenatural. Não estamos tratando apenas de comer e beber, estamos lidando com sutis operações demoníacas. Satanás concebeu, e agora controla a ordem do mundo para usar o seu poder, a fim de nos atrair. Os fatos atuais não podem ser explicados fora deste contexto.
Por isso, eu peço a Deus, que de uma forma gloriosa, esteja falando ao seu coração nessa hora. Que o seu coração se abra para a Palavra de Deus e venha ser ajudado por esta Bendita Palavra, para que você possa compreender que a saída de Ramessés simboliza a nossa libertação do poder do mundo.
Que Deus fale a você. Que a Palavra Dele lhe alcance e lhe abençoe, mais uma vez. Amém.


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“Todo-Poderoso , aquele que era , que é, e que há de vir.”
“Ora, vem, Senhor Jesus!”

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