Incredulidade (1ª parte)

terça-feira, 23 de junho de 2009


O Senhor abriu o seu coração e derramou sobre nós toda a sua Graça, e tem nos revelado de forma extraordinária sua completa vontade. Diante disto como temos recebido e reagido a este magnífico dispensar?


Creio que no momento não será nosso objetivo tratar de forma mais investigativa o retorno do Senhor Jesus para buscar a sua Igreja, mas para chegarmos à reflexão que pretendo dividir com os irmãos é preciso falar um pouco sobre este assunto. Irei usá-lo sempre como ponto focal no propósito de compartilhar com o seu Corpo o que o Senhor tem colocado em meu coração. Que Ele possa nos livrar de nossa desastrosa insensibilidade. O Senhor abriu o seu coração e derramou sobre nós toda a sua Graça, e tem nos revelado de forma extraordinária sua completa vontade. Diante disto como temos recebido e reagido a este magnífico dispensar? O Senhor Jesus se deu e continua a se dar inteiramente à sua Igreja para que possamos compreender claramente a sua economia. A sua segunda vinda é parte fundamental no cumprimento deste santo e eterno propósito. E nós, irmãos, fomos escolhidos antes da criação dos tempos para participarmos juntamente com Ele da consolidação deste plano divino. Será que temos entendido esta verdade? Será que temos percebido a seriedade da vida cristã? Será que temos nos dado completamente ao Senhor como verdadeiros cooperadores (1Co 3.9; 2Co 6.1), para que o seu maravilhoso projeto seja consumado em nós? Como somos insensíveis, egoístas, ingratos e vaidosos! Precisamos urgentemente voltar todo o nosso olhar para o Senhor (Sl 119.37; 123.1,2). Pensar nas coisas do alto, andar no Espírito, para não sermos engodados pelos desejos naturais e carnais que nos cercam a todo instante e que são totalmente contrários a Deus (Gl 5.16; Cl 3.2; 1Jo 2.16). Precisamos observar cuidadosamente os seus ensinamentos, ser atraídos pela sua Palavra e manter os nossos olhos fixos no Senhor, para não corrermos o risco de construirmos impérios materiais e/ou espirituais à nossa volta, caindo de cabeça no erro do engano da vaidade (Ec 2.1-10), ou simplesmente cruzarmos os braços nos omitindo do nosso papel diante do Senhor (2.Jo 1.8).


"Já agora a coroa da justiça me está guardada, a qual o Senhor, reto juiz, me dará naquele Dia; e não somente a mim, mas também a todos quantos amam a sua vinda" (2Tm 4.8).

Diante de tudo que o Pai tem revelado nesses últimos dias, tenho perguntado a Ele porque a sua Igreja não tem amado a vinda do seu precioso Filho. Porque este é um assunto tão esquecido e evitado pela grande maioria dos santos? Muitos podem até pensar que se trata de radicalismo, esta afirmação. Mas se acham que estou exagerando, comecem a compartilhar isto com os membros do Corpo de Cristo e observem quais são as reações de muitos dos amados. Não se escandalizem se uma atmosfera de "indiferença, medo e rejeição" os envolver. Ah irmãos! Como queria estar enganado sobre o que estou dizendo, mas infelizmente o que tenho visto só fundamenta o que compartilho convosco. A forma que a Igreja tem reagido a esta verdade é prova cabal da nossa vergonhosa incredulidade.


1) Indiferença


"Pois haverá tempo em que não suportarão a sã doutrina; pelo contrário, cercar-se-ão de mestres segundo as suas próprias cobiças, como que sentindo coceira nos ouvidos; e se recusarão a dar ouvidos à verdade, entregando-se às fábulas" (2Tm 4.3,4).

Talvez esta seja a mais comum de todas as reações de muitos irmãos quando indagados sobre este assunto. É intrigante, mas é o que de fato tem acontecido em nosso meio. "Ignorar totalmente; fazer de conta que não está ouvindo ou que não entende; a constante tentativa de mudar o assunto, desviando o cerne da questão; atitudes irônicas e hipócritas de levianamente concordar com algo que na verdade não crer"; tudo isto, infelizmente tem feito parte da comunhão dos santos (se é que realmente há comunhão), e é produto do descaso com que temos tratado a Palavra do Senhor. Isto com certeza é reflexo da nossa completa ignorância espiritual e do nosso total desprezo quanto à medida da fé que o Senhor tem depositado em nós. Infelizmente, para muitos dos filhos de Deus, este é um tema terminantemente proibido e completamente desprezível. É permitido se falar de uma gama de assuntos, mas quando se trata da vinda do Senhor Jesus a resistência é enorme. Sermões e mais sermões tem sido preparados e proferidos dia após dia; cursos e mais cursos são criados e ministrados; métodos e mais métodos tem sido elaborados e colocados em prática; doutrinas e mais doutrinas são instituídas, movidas pela vontade humana; modismos e mais modismos tem sido adotados e aperfeiçoados; ondas e mais ondas estão inundando a Igreja, e muitos membros têm se regozijado em seus movimentos deixando-se levar por elas. As necessidades humanas têm ocupado o lugar de destaque nos "cultos" e na vida de muitos cristãos. A vontade suprema de Deus tem sido considerada como não essencial e levada ao segundo plano, enquanto os valores antropocêntricos são elevados ao topo de tudo o que é essencial à natureza humana. A figura do homem nunca esteve tão evidente na vida da Igreja como hoje. Como não haver indiferença quanto à expectativa da volta do nosso Senhor Jesus? Se tudo hoje nas "igrejas" tem girado em torno do homem! O culto a Deus já foi abolido em muitas congregações. No lugar, com adesões cada vez maiores de líderes e liderados, tem se cultuado ao "Eu e a Mamoom". O Cordeiro não tem sido mais o único alimento dos santos. Em êxodo 12, na noite em que Deus libertou o seu povo da escravidão do Egito, todos os israelitas, espalhados por milhares de casas, encontravam-se em torno de uma mesa onde a única e principal refeição era o cordeiro assado, acompanhado de pão asmo e ervas amargas. Hoje, para nossa vergonha, as ervas doces são colocadas no lugar das amargas e os pães levedados no lugar dos asmos, e muitos outros alimentos têm sido inseridos nessa mesa que não mais ocupa o lugar central. A centralidade de Cristo tem sido colocada de lado, quando não totalmente rejeitada. Muitos dos nossos irmãos não têm suportado a sã doutrina; ao contrário, têm recusado a verdade e se iludido com um bando de mestres insubordinados, vazios, enganadores, arrogantes e dominadores. Estes, mergulhados em suas próprias cobiças, têm pervertido o povo de Deus por pura ganância (Tt 1.10,11). A doutrina dos nicolaítas é atraente demais aos olhos humanos. Satanás tem causado um verdadeiro alvoroço e cirandado no meio do povo de Deus. Ele tem trabalhado incessantemente no intuito de nos cegar quanto ao genuíno propósito do Senhor, e o pior é que, por causa da nossa incredulidade, ele tem alcançado seu objetivo no viver de muitos de nós (2Co 4.4). O ardente desejo de estar face a face com o nosso Senhor Jesus com certeza não tem sido a vontade de muitos dos membros do Corpo de Cristo. Falo isto com muito temor, pois não tenho a intenção e nem posso julgar ninguém. Mas se fizermos anotações de nossas prioridades; de nossos objetivos e propósitos; se formos honestos e sinceros conosco e com Deus, iremos perceber que temos excluído ou colocado este desejo lá no final da lista. É que estamos super ocupados com nós mesmos, com a nossa própria vida, com a nossa alma. É verdade irmãos; não temos dado primazia ao Senhor Jesus. Às vezes até temos confessado que Ele ocupa o primeiro lugar em nossa vida, mas se olharmos para o mais recôndito e oculto local do nosso coração veremos que por trás dessa aparente comovida confissão o que impera mesmo é o nosso próprio interesse. É isto mesmo amados! Se deixarmos a hipocrisia de lado por um instante que seja, certamente iremos enxergar o quanto somos soberbos. Os nossos olhos parecem estar cheios de escamas ainda; uma visão turva e embaçada. Como precisamos nos curvar diante Daquele que é Alfa e o Ômega, o Primeiro e o Último, o que era e o que há de vir, o Princípio e o Fim, o Todo-Poderoso, Aquele que dá, a quem tem sede, da fonte da água da vida; (Ap 1.8, 21.6, 22.13)! Que o Senhor desvende os nossos olhos e nos dê a verdadeira visão espiritual. Uma visão que nos revele Ele próprio, apenas Ele, nada mais do que Ele. Que possamos nos prostrar diante da sua Santidade. Que possamos nos regozijar em sua vital, magnífica e bendita presença. Que o Senhor nos liberte de nós mesmos e nos mostre quem somos realmente. Que Deus nos ajude a compreender o significado da verdadeira renuncia para que neste tempo presente possamos perder a nossa alma para ganhá-la na era vindoura. Ah! Como necessitamos do nosso Pai!


- Uma visão espiritual deficiente


A falta de uma visão espiritual coerente, clara e pura tem levado o povo de Deus à sua própria ruína. A falta de um conhecimento mais profundo em relação ao nosso Pai celeste - falo de um conhecimento prático, experimental, relacional - tem nos levado à nossa própria destruição (Os 4.6). Sem este não há como obedecer ao Senhor, já que o conhecimento revelado torna-se a base da nossa obediência. Se não O conhecemos, não podemos obedecê-Lo. Um povo que vive nesse estado caracteriza-se pela desobediência e encontra-se mergulhado na mais profunda ignorância. No início do capítulo 5 do livro de Êxodo vemos em Faraó a figura de um homem que não conhecia a Deus nem podia enxergar a sua miserável condição, e muito menos podia entender que mesmo sofrendo as conseqüências de sua condenação, serviria de instrumento para que o Senhor mostrasse o seu poder e o seu nome fosse anunciado em toda a terra (Ex 9.16; Rm 9.17). Claro que Faraó não podia ter nenhuma visão espiritual, pois era um ímpio a serviço de satanás. O ímpio não tem o seu espírito vivificado, portanto está morto, e os mortos não possuem nenhum tipo de visão (Ec 9.5). Mas o que profundamente nos constrange é vermos um povo escolhido por Deus sem entender claramente o poder da morte e ressurreição de Cristo em suas vidas, e assim viverem numa esfera espiritual infinitamente aquém do propósito divino; uma esfera que embora possa ter a aparência de vida, tem sido dominada pela morte. A ausência ou deficiência dessa visão leva o povo a murmurar e afrontar o Senhor constantemente endurecendo o coração cada vez mais. Por causa deste endurecimento só os feitos do Senhor foram revelados ao povo de Israel, enquanto que a Moisés foram manifestados os seus Caminhos (Sl 103.7). A visão espiritual que nos move está diretamente relacionada ao nosso conhecimento prático do Senhor. E a falta deste, irremediavelmente nos conduz à incredulidade. Assim podemos entender porque muitos de nós temos nos mostrados tão insensíveis quanto às inúmeras e magníficas revelações contidas em sua Palavra. Sem uma visão madura não há possibilidade de conhecê-las. Então, como haver esperança e anseio pela vinda do Senhor Jesus. É impossível esperarmos por alguém que desprezamos. Saulo de Tarso zelava em perseguir a Igreja (Fp 3.6), mas depois que foi salvo pelo Senhor, abriu completamente o seu coração e desde então foi profundamente lapidado pelo Espírito Santo, vivendo dia após dia desejando ardentemente a presença de Cristo em sua vida. Precisamos nos render ao Senhor como Paulo e muitos outros irmãos que através dos tempos têm sido testemunhas do poder restaurador e transformador de Deus. Se não, estaremos expostos a todo engano e sujeitos a qualquer vento de doutrina (Jr 23.26; Ef 4.14). Estaremos submissos a irmãos insubmissos ou aleivosos profetas, recebendo todo tipo de falsos ensinamentos. Que Deus nos livre desses lobos e nos conceda o Seu puro conhecimento. Ele já nos conhece completamente, mas nós necessitamos conhecê-lo urgentemente. Mas como podemos conhecer o Senhor? Ou como saber se já O temos conhecido? Vocês acham que podemos conhecer alguém com quem não temos nenhuma comunhão? Certamente que não. E será que podemos ter comunhão com quem não conhecemos? De forma nenhuma. A medida da nossa comunhão será a medida do nosso conhecimento do Senhor. E este dependerá do nosso relacionamento com Ele. Portanto conhecimento e comunhão se mesclam representando uma relação vital no nosso relacionamento com Deus e com os irmãos na adequada vida cristã.


- O Caminho da Cruz


"Ora, sabemos que o temos conhecido por isto: se guardamos os seus mandamentos. Aquele que diz: Eu o conheço e não guarda os seus mandamentos é mentiroso, e nele não está a verdade. Aquele, entretanto, que guarda a sua palavra, nele, verdadeiramente, tem sido aperfeiçoado o amor de Deus. Nisto sabemos que estamos nele: aquele que permanece nele, esse deve também andar assim como ele andou" (1Jo 2.3-6).


Segundo lemos nos versículos acima, conhecer o Senhor está ligado a guardarmos os seus mandamentos. E guardá-los, significa conter a Verdade. Embora as palavras, "mandamentos e palavra", nos escritos originais não sejam as mesmas, o texto acima nos mostra que os "mandamentos" se referem à Palavra. Assim, guardá-la implica em permanecermos no Senhor e sermos aperfeiçoados no seu amor. A sua Palavra é a Verdade (Jo 17. 17). "Nisto - ou seja, em permanecer Nele, em guardar os seus mandamentos, a sua Palavra, vivendo na Verdade, andando como Ele andou – sabemos que estamos Nele. Estar em Cristo significa ter comunhão com Ele. E andar como Cristo andou nos revela um caminho a ser seguido. Mas qual seria esse caminho? Certamente o caminho da Cruz. O caminho da Verdade que nos conduz à Vida. Pois se não guardarmos o seu mandamento, ou seja, a sua Palavra, em nós não estará a Verdade". E esse caminho, que requer comunhão, verdadeiramente não é um caminho fácil. Tudo que envolve renúncia traz consigo um grau de dificuldades muito grande. O sofrimento é condição irremediável e indispensável nesse processo. O caminho que nos leva ao pleno conhecimento do Senhor é apertado e a porta é estreita (Mt 7.13,14). Embora a graça redentora que exalta a soberania de Deus em nossa salvação seja um ato exclusivo do Pai, sem absolutamente nenhuma participação nossa, o preço que foi pago por Ele, para que um novo e vivo caminho de comunhão fosse aberto, foi incalculavelmente alto (Hb 10.19,20). Um valor que só Deus mesmo poderia desembolsar. O nosso Senhor Jesus renunciou a sua própria vida para que nós pudéssemos ter vida. Não podemos mover um dedo se quer em prol de nossa salvação, mas se quisermos ter uma vida de comunhão com o Senhor, precisamos seguir os seus passos. Para que isto seja realidade é necessário que renunciemos a nossa própria vida, pois só assim poderemos desenvolver um íntimo e profundo relacionamento com o nosso Senhor (Mt 16.24). A necessidade da renúncia tem feito com que muitos irmãos desistam de se esforçarem em trilhar este caminho. Mas só assim poderemos conhecê-Lo verdadeiramente. Não há facilidades nesse caminho, pelo contrário, há muitas lutas e grandes batalhas. Mas estas não podem tirar de nenhuma forma o regozijo daqueles que têm recebido o toque do Senhor e provado do seu imenso amor. Porque apesar das muitas dificuldades encontradas nesse caminho, a recompensa é simplesmente de valor inestimável, pois o prêmio é o próprio Senhor Jesus. É um caminho obrigatório para aqueles que almejam desfrutar do privilégio de reinar com Ele, pois esta é a Sua vontade.

Em toda Bíblia, e em particular nos escritos de João, o Espírito Santo usa algumas palavras para falar profundamente aos nossos corações a respeito desse bendito caminho. Iremos com a Sua permissão compartilhar um pouco sobre algumas destas; longe de querermos encerrar o assunto diante de sua vasta riqueza.


Confessar


"Todo aquele que nega o Filho, esse não tem o Pai; aquele que confessa o Filho tem igualmente o Pai". "Aquele que confessar que Jesus é o Filho de Deus, Deus permanece nele, e ele, em Deus" (1Jo 2.23;4.15).


A verdadeira confissão é parte da nossa salvação (Rm 10.10); é resultado da soberana Graça do Senhor em nosso favor. Desta forma podemos concluir que, assim como na salvação, "o confessar" possui também dois importantes aspectos: o inicial que envolve uma ação, um ato e o contínuo que envolve uma atitude, uma postura. Tão logo somos tocados pela Graça de Deus, um profundo sentimento de contrição e arrependimento invade o nosso ser, e assim sentimos a real necessidade de confessar. Aqui podemos observar a ação como o ato inicial desta confissão que procede da fé concedida por Ele mesmo. Nesse contexto a ação se caracteriza por um momento, um feito que nos revela um princípio, um início, um começo. É certo que muitas outras ações são realizadas durante toda a nossa vida aqui na terra, mas se não houver algo que ligue as nossas ações, elas não passarão de momentos isolados da nossa vida de confissão. Assim, em nossa vida cristã, as nossas ações podem se tornar apenas atos religiosos, momentâneos, ou obras sem vida; um serviço inútil diante dos olhos do Senhor. Por outro lado, a atitude revela uma ação contínua que se caracteriza pelo desenvolvimento de uma posição recebida e mantida por Deus. Portanto a atitude é a disposição interior que liga as nossas ações expressando a nossa real condição. Tanto a ação de nossa confissão inicial quanto a atitude de continuarmos confessando o nome de Jesus é produzida pelo Senhor em nós. Certamente realizamos coisas e temos outras atitudes que não provém de Deus. Mas no momento falo de algo gerado Nele, por isso Ele quer que participemos dessa progressividade; Ele quer que corramos a carreira que nos é proposta (Hb 12.1). Então esta atitude nos fala do caráter ascensional da vida cristã. E isto requer de nós a clara compreensão de nossa atual posição assim como de onde estávamos e também de onde fomos retirados. Confessar o nome do nosso Senhor Jesus é admitirmos a nossa condição de depravação (Rm 3.23) e a nossa incapacidade de fazer algo em nosso próprio favor para transformar essa triste realidade. Quando verdadeiramente confessamos este precioso Nome enxergamos o nosso lastimável estado de inteira pecaminosidade. Compreendemos que herdamos uma herança de culpa e já nascemos carregando sobre os ombros o pesado fardo do pecado. Mas também, esta confissão é um ato de louvor, celebração e adoração (Hb 13.15); é tomar posse da vida eterna (1Tm 6.12). É uma declaração aberta e livre de que Ele, o Filho Amado, é a nossa única salvação. Ele é a própria Graça. O presente do Senhor para nós, seus filhos. Ele é o único mediador entre o único Deus e os homens (1Tm 2.5). Por causa de Sua voluntária escolha de ir até a Cruz; pela Sua morte e ressurreição, hoje podemos nos relacionar com o Pai. Podemos ser verdadeiros adoradores, pois os nossos pecados foram totalmente perdoados e não só isto, mas fomos libertos do poder do pecado. O nosso Senhor Jesus morreu para que nós fossemos completamente desarraigados, separados deste século mau, deste mundo perverso (Gl 1.4). Ele tem nos aperfeiçoado para que sejamos santos como Ele é Santo (Lv 11.45; 1Pe 1.16). Um dos principais objetivos dessa progressão em nossa vida cristã é anular totalmente o nosso eu. Quando nos colocamos numa posição de total dependência do Senhor, a cada degrau que subimos haverá menos e menos de nós e mais e mais de Deus no nosso viver. E assim estaremos cada vez mais próximos do Senhor, pois só desta forma poderemos conhecê-lo profundamente.


"Portanto, todo aquele que me confessar diante dos homens, também eu o confessarei diante de meu Pai, que está nos céus" (Mt 10.32).

"Digo-vos ainda: todo aquele que me confessar diante dos homens, também o Filho do Homem o confessará diante dos anjos de Deus" (Lc 12.8).


"Tens, contudo, em Sardes, umas poucas pessoas que não contaminaram as suas vestiduras e andarão de branco junto comigo, pois são dignas. O vencedor será assim vestido de vestiduras brancas, e de modo nenhum apagarei o seu nome do Livro da Vida; pelo contrário, confessarei o seu nome diante de meu Pai e diante dos seus anjos". Ap 3.4,5


Em Ap 3.4,5 o Senhor Jesus nos revela que algumas poucas pessoas, consideradas dignas porque não contaminaram as suas vestes, andarão juntas com Ele. Cristo classifica aquele que estiver no meio dessas poucas pessoas de vencedor, e disse que confessará o seu nome diante do Pai e dos seus anjos. Em Mt 10.32,33 e em Lc 12.8,9 Ele nos fala que confessará ao Pai e aos anjos o nome daquele que confessar o Seu nome diante dos homens. Portanto, confessar é não negar o Senhor; é apresentá-lo ás pessoas, assim como Ele nos apresentará diante de Deus. Confessar é deixar de se apoiar em si mesmo. Então "o vencedor" é com certeza aquele que independente de qualquer coisa confessa o nome do Senhor Jesus diante de todos. É aquele que tem o Senhor como sua única e suficiente sustentação. Em Mt 16.24,25 e em Lc 9. 23-26, o Senhor nos diz que se alguém quiser ir após Ele precisa renunciar, negar a si mesmo, tomar a sua cruz e segui-Lo. Que maravilha irmãos! Ir após Ele e segui-Lo é andar junto com Ele (Ap 3.4). Portanto aquele que anda com o Senhor é considerado digno e vencedor, pois renuncia a sua própria vida, se alegra em fazer apenas a vontade do Pai, e proclama o Seu nome em todo tempo. Podemos observar através da história a vida de muitos dos nossos irmãos que viveram uma vida de intensa comunhão com o Senhor, como Enoque, Noé e inúmeros outros amados que andaram e andam com Deus. Quem anda com o Senhor confessa o Seu nome incessantemente, não se envergonha do Seu evangelho, está pronto a se esforçar, e disposto a confirmar, defender e sofrer por causa dele (Rm 1.16;15.20; Fp 1.7,16; 4.3; 2Tm 1.8). Quem verdadeiramente anda com o Senhor é aprovado por Ele e vive de forma digna do evangelho de Cristo (Fp 1.27; 1Ts 2.4). A palavra "confessar" é traduzida dos termos yadah (hebraico) e homologeo (grego). Estas palavras usadas nos escritos originais são muito semelhantes e não significam apenas confessar, mas também concordar, consentir, conceder, não rejeitar, não negar, admitir, declarar, professar, louvar, agradecer, dar graças, celebrar. Nossa confissão no sentido mais amplo e profundo desta palavra nos conduz ao pleno conhecimento de Deus através do Seu Espírito e também é uma santa e verdadeira declaração de amor ao nosso Senhor Jesus Cristo.


Guardar


"Vivifica-me, segundo a tua misericórdia, e guardarei os testemunhos oriundos de tua boca. O Senhor é a minha porção; eu disse que guardaria as tuas palavras. Guardo no coração as tuas palavras, para não pecar contra ti" (Sl. 119.11,57,88).

"Ora, o seu mandamento é este: que creiamos em o nome de seu Filho, Jesus Cristo, e nos amemos uns aos outros, segundo o mandamento que nos ordenou. E aquele que guarda os seus mandamentos permanece em Deus, e Deus, nele. E nisto conhecemos que ele permanece em nós, pelo Espírito que nos deu" (1Jo 3.23,24).


Ninguém pode guardar a palavra do Senhor se verdadeiramente não for vivificado por Ele. Deus não pode ser a porção de quem ainda vive mergulhado em seus delitos e pecados (Ef 2.1). Guardar esta palavra é esperar o seu completo cumprimento em nossa vida. Só iremos obter o verdadeiro conhecimento do Senhor se permanecermos nele e Ele só permanece em nós se guardarmos a sua Palavra (1Jo 3.24). Quando guardamos o seu mandamento, o Seu Falar nos conduz em todo o tempo da nossa vida. Temos esta convicção através da presença do Espírito Santo em nós, revelando e glorificando o Senhor Jesus. Portanto, necessitamos aprender a ouví-Lo, pois Cristo é o Falar de Deus em sua Igreja. Ele é a própria Palavra (Jo 1.1,3,10,14). Ele é quem ministra o Pai para dentro de nós e através de nós. A palavra "guardar" é traduzida de várias palavras dos escritos originais da Bíblia. A mais usada no Antigo Testamento é a palavra shamar e no Novo Testamento é a palavra tereo, embora muitas outras palavras e sinônimos tenham este significado. Contudo, se posso exprimir um pouco do que ela representa no contexto em que a estamos estudando, direi que "guardar" significa manter esta Palavra Viva em nosso coração, observando-a atentamente, sem negligenciá-la. E para isto é preciso experimentá-la, examinando-a cuidadosamente para que possamos retê-la e obedecê-la. À medida que verdadeiramente a entesouramos, passamos a ter uma visão cada vez mais clara a Seu respeito. Podemos enxergar o quanto é preciosa, e desfrutar de Sua doce presença. Precisamos conhecê-la para poder admirá-la e contemplá-la intensamente. Guardar significa vivermos esta Palavra, compartilhando-a com os nossos irmãos. Esta Verdade é para ser comunicada no Corpo de Cristo e não para ser enclausurada em indivíduos ou grupos isolados. A Igreja do Senhor Jesus não é exclusivista. Ela é inclusiva. E é o próprio Senhor quem acrescenta as pessoas que serão salvas (At 2.47). Quem observa esta magnífica Palavra não verá a morte; é bem-aventurado, pois não estará indiferente à segunda vinda do Senhor Jesus (Jo 8.51; Ap 1.3; 3.8,10; 22.7). Mas quem rejeita o Senhor e não recebe os seus ensinamentos será julgado pela própria Palavra (Jo 12.48). Todavia quando guardamos esta bendita Palavra somos guardados pelo Senhor. Demonstramos o nosso amor por Cristo. Temos a certeza da nossa permanência Nele e de sermos Sua eterna habitação (Jo 14.15,21,23; 15.10; Jd 1.1). Não podemos esquecer do que temos ouvido e recebido; precisamos estar vigilantes (Ap 3.3; 15.16). Ao cumprirmos com a Sua vontade somos preparados para o serviço no Corpo, somos modelados, lavados e purificados de tudo que desagrada o Senhor. Assim Cristo é construído em nós. O Senhor é manifestado através da sua Palavra, e guardando-a somos conduzidos por ela e para ela. Este é o propósito do Senhor. O caminho que nos conduz à verdade gerando vida em nós. Cristo é o único alvo designado por Deus para a sua Igreja. Ele é o Caminho, a Verdade e a Vida (Jo 14.6). Mas para permanecermos Neste alvo é seguramente indispensável amarmos uns aos outros. "Aquele que não ama não conhece a Deus, pois Deus é amor" (1Jo 4.8). E quem diz que conhece a Deus e não guarda a sua Palavra é mentiroso. Portanto aquele que não retém a Palavra não pode amar. Então como dizer que estamos em Cristo se não amamos uns aos outros? O amor aos irmãos nos dá a convicção de que passamos da morte para a vida (1Jo 3.14). Se realmente afirmamos que estamos guardando esta Palavra precisamos também afirmar que amamos os nossos irmãos. É com a sua Palavra que o Senhor tem preparado a sua noiva para o casamento. Se não temos abraçado esta Palavra, não é de estranhar a indiferença com que tratamos os assuntos celestes. A incredulidade se opõe de forma veemente ao poder restaurador da Palavra.


Permanecer


"Bondade e misericórdia certamente me seguirão todos os dias da minha vida; e habitarei na Casa do Senhor para todo sempre" (Sl 23.6).


"Permaneça em vós o que ouvistes desde o princípio. Se em vós permanecer o que desde o princípio ouvistes, também permanecereis vós no Filho e no Pai" (1Jo 2.24).


Se formos conduzidos pelo Senhor a confessarmos o seu Nome e guardarmos a sua Palavra certamente permaneceremos nele. Podemos observar a palavra "permanecer" de dois ângulos. Assim que recebemos a salvação do Senhor devemos ter a convicção de que iremos permanecer nele para sempre. Pois este é um fato totalmente consumado. Não só permanecemos em Cristo, mas Ele nos escolheu para permanecer eternamente em nós. Portanto o primeiro aspecto deste verbo que estamos estudando nos revela uma decisão do Pai. Deus não vive no tempo. Então se trata de uma deliberação eterna. No momento em que genuinamente nos arrependemos e nascemos de novo somos inseridos na eternidade. Este é um ato irrevogável. Esta é uma obra exclusiva do Senhor. Não há nenhuma participação humana. Nada podemos fazer diante desta determinação de Deus. O dom da fé, dado a nós pelo próprio Senhor, é que nos dá esta convicção. Aqui o nosso papel é apenas crer. O Senhor decidiu nos redimir e nos introduzir na Vida. Desta forma a redenção não é o fim em si mesma e sim o início da vida em nós. Assim somos apresentados ao Homem Celestial. Consequentemente, passamos a ter comunhão com a Cabeça e com o Corpo. Este é o começo do nosso relacionamento com o Pai e com os irmãos. A partir de então, temos a certeza de que estamos em Cristo e Ele em nós. Ele nos colocou em Seu seio de forma permanente e perpétua. Mas depois deste ato soberano do Senhor, a vida cristã tem uma continuidade, um desenvolvimento. Então iremos agora refletir sobre o segundo aspecto do verbo permanecer. Apesar de sermos introduzidos na eternidade, ainda estamos vivendo no tempo. Assim, a obra de Deus em nós, no que diz respeito a sermos conformados a Ele mesmo, ainda não está totalmente acabada. Precisamos passar pelo processo de desenvolvimento da nossa salvação até chegarmos ao fim desejado pelo Senhor para a sua Igreja que é a perfeição (Ef 4.13; Fp 2.12). A onisciência é um atributo incomunicável de Deus. O Pai já contempla a festa de casamento do seu Filho com a sua Noiva. Já aprecia o Esposo e a Esposa. Já admira a Nova Jerusalém desde os tempos eternos. Mas nós precisamos perseverar em viver uma vida de total comunhão com o Senhor no tocante ao tempo que ainda nos resta neste tabernáculo. Até a sua volta o Senhor Jesus estará edificando a sua Igreja. É aqui que necessitamos compreender a necessidade de permanecermos Nele em todo o tempo. A palavra permanecer, sob este ângulo, nos revela uma disposição. A vida cristã exige muito esforço de nossa parte. Não para a nossa salvação, pois sabemos que se trata da soberania de Deus, mas para que possamos estar cada vez mais unidos com o Senhor. Esta disposição, amados irmãos, precisa ser de continuamente estarmos na Sua presença, pois esta deve ser nossa única motivação. Todo nosso prazer. Toda nossa satisfação. Toda nossa esperança deve estar no Senhor Jesus. O Reino é uma recompensa para aqueles que perseveraram com Ele. É conseqüência de uma madura comunhão com Cristo. De um relacionamento íntimo com o Senhor. É muito importante também observarmos que esta disposição é movida pelo amor, que é um dos princípios fundamentais da vida de Deus (1Jo 4.16). Se amarmos uns aos outros Ele permanece e derrama o Seu amor em nós; e esta certeza é concedida pelo Espírito que nos foi outorgado (Jo 14.16,17; Rm 5.5; Hb 13.1; 1Jo 3.23,24). O Senhor Jesus coloca o amor ao próximo como representação do seu amor e de sua permanência em nós. Por tanto o amor ao próximo é uma atitude vital, irmãos. Guardar o que temos ouvido Dele é essencial, pois se assim não procedermos, nunca iremos amar nosso próximo. E se não amamos os irmãos como poderemos amar a Deus (1Jo 4.20)? Se guardarmos a sua palavra, permaneceremos Nele, e isto é obra do Espírito Santo. Mas precisamos nos colocar à inteira disposição para que Ele possa concluir a sua vontade. Somos a Sua habitação e Ele a nossa; nós estamos Nele e Ele em nós (2Co 5.17; Gl 2.20). Permanecer significa estar em Cristo, prevalecer com Ele, residir Nele, sobreviver Dele, ser sustentado e mantido ininterruptamente por Ele. Também significa esperar Nele e por Ele, e manter a mais ardente e viva esperança em Sua bendita vinda. Então amados se quisermos permanecer no Senhor precisamos nos manter firmes neste propósito. Quando lemos que Ele permanece em nós, isso quer dizer que Ele persiste conosco, nos prova, nunca desiste de nós. Ele é quem nos sustenta, nos dá segurança, nos estabelece e nos edifica. É Ele que mantém a nossa integridade e nos ensina o Seu caminho. Se não temos tido uma vida de permanência no Senhor estamos perdidos. Neste caso a indiferença a qualquer assunto que se relacione com o Reino de Deus torna-se muito evidente, principalmente quando se trata da volta do seu amado Filho.


Aperfeiçoar


"Quando atingiu Abrão a idade de noventa e nove anos, apareceu-lhe o Senhor e disse-lhe: Eu sou o Deus Todo-Poderoso; anda na minha presença e sê perfeito" (Gn 17.1).


Só seremos aperfeiçoados se andarmos na presença do Senhor Deus Todo-Poderoso. O caminho da perfeição passa pela confissão, contrição, pelo arrependimento, por guardar a sua Palavra e permanecer Nele. Quando o Senhor disse a Abrão: "sê perfeito"; Ele estava se referindo a ser aperfeiçoado. Esta expressão é de uma profundidade espiritual surpreendente. Aperfeiçoar é chegar ao fim no qual todas as coisas se relacionam, ou seja, é alcançar o propósito. Aperfeiçoar nos fala do dispensar de Deus para dentro de nós; é eterno. Significa o Pai realizando, efetuando, executando e finalizando a sua Obra em nós. Nos aperfeiçoar é a consumação da Sua vontade. O Senhor está levando as suas designações até o fim. Está completando o Seu objetivo em nossa vida. Está acrescentando em nós o que ainda nos falta a fim de nos tornar perfeitos, maduros, virtuosos, íntegros. Deus está nos conduzindo ao limite no qual algo deixa de ser, ou seja, ao fim de um ato ou estado, de uma dispensação. O Senhor está estabelecendo a sua vontade quando nos aperfeiçoa e é aperfeiçoado, amadurecido, construído, em nós. O Pai planejou, o Filho obedeceu e o Espírito tem o papel de executar este propósito. É um árduo trabalho do Espírito Santo. Pois é através Dele e Nele que somos aperfeiçoados. Esta maravilhosa tarefa consiste em forjar e imprimir o caráter de Cristo em nós. Se permanecermos Nele, a cada dia, Ele nos tornará mais e mais semelhantes ao nosso Senhor Jesus. Este é o magnífico propósito do Senhor em nossa vida. Ao contrário do que muitos de nós pensamos, de que há um propósito ou propósitos específicos na vida de cada um de nós. Creio que há uma porção específica, uma medida personalizada, mas o propósito é único, pois este se relaciona com a Sua Igreja. O Pai esta consumando a sua Palavra quando, através da manifestação do Seu infinito amor, constitui Cristo como tudo em nós (Cl 3.11).


"Nisto se manifestou o amor de Deus em nós: em haver Deus enviado o seu Filho unigênito ao mundo, para vivermos por meio dele" (1Jo 4.9).


O Pai manifesta todo o seu Amor; torna conhecida toda a sua Graça enviando o Seu Filho ao mundo para nos substituir. O Senhor recebeu sobre si o cálice da ira divina para que pudéssemos ser reconciliados com Ele e herdarmos a vida eterna (Is 53; Mt 20.22; 26.39; Mc 10.38; Lc 22.42; Jo 3.16; 18.11; Rm 5.10). Parece que para nós não há, aparentemente, nenhuma dificuldade quanto a aceitar esta tremenda verdade. Talvez não tenhamos consciência de como este é um assunto elevado. Talvez tratemos deste ato ímpar com desdenhosa irreverência. Mas mesmo longe de entendermos a profundidade desta decisão do Pai, ainda existe uma certa compreensão de nossa parte. O problema está no final do verso 9 de 1Jo 4. Porque quanto ao entendimento de que Deus enviou o seu amado Filho para ser sacrificado – mesmo sabendo que fomos o objeto desse propósito; o que parece não nos tocar – parece não haver nenhuma dificuldade. Foi uma escolha do Pai. Ele decidiu, planejou, providenciou, executou e cumpriu. Cem por cento da nossa salvação é de Sua responsabilidade. O que fizemos? Absolutamente nada! Graças a Deus por isto, embora, infelizmente, muitos de nós ainda crêem que podem contribuir de alguma forma com sua concretização. Todavia, Ele não enviou o Seu Filho apenas para nos salvar, mas também "para vivermos por meio dele". Esta frase é simplesmente magnífica, pois nos mostra dois importantíssimos aspectos concernentes à nossa salvação como um todo. "Vimos estes aspectos do ângulo da palavra permanecer, e agora iremos vê-los olhando para o verbo aperfeiçoar". O primeiro aspecto está relacionado à nossa vivificação como ato soberano de Deus, mais precisamente, ao princípio da vida em nós, já que estávamos mortos em nossos delitos e pecados (Ef 2.1). A redenção nos introduz na vida eterna; nos eleva às regiões celestiais (Ef 2.6; Cl 3.3); nos proporciona a verdadeira paz e segurança que só há em Cristo Jesus (Mq 5.3-5; Ef 2.14). Abre a porta do Seu Reino e nos dá a possibilidade de participarmos do Seu reinado. O segundo aspecto dessa frase é igualmente extraordinário. A vontade de Deus é que Cristo seja o nosso viver contínuo. Viver por meio dele significa viver Nele, Dele, com Ele e para Ele. É o que o apóstolo Paulo nos diz em Gl 2.20: "...,já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim;...". Mas para que isto seja uma realidade em nossa vida é preciso permitir que o Espírito Santo possa nos aperfeiçoar. Agora não se trata somente da soberania de Deus em nosso favor. É preciso que nós também tomemos uma postura, uma atitude, uma decisão. Não estou querendo dizer com isso que podemos fazer algo de nós mesmos quando se trata da vontade do Senhor, pois sabemos que não (2Co 3.5). Não há nenhuma dúvida de que tudo que agrada ao Senhor é gerado Nele mesmo, nunca em nós. Nada da natureza humana pode trazer qualquer tipo de satisfação ao Senhor (Rm 7.18). Mas quando falo em tomarmos uma postura, refiro-me a antes de tudo termos uma clara compreensão do poder da morte e ressurreição de Cristo, no que diz respeito à posição em que fomos colocados por esse inefável ato. E daí, percebermos o desejo do Senhor de prosseguirmos para conquistar o nosso amadurecimento Nele (Fp 3.12). É nesta questão, onde temos que nos posicionar dignamente diante de tudo e de todos, e principalmente de Deus, que nós, os membros do seu corpo, as pedras que compõe a sua Igreja, temos a maior dificuldade. Aqui está um dos nossos maiores problemas, se não o maior. Como conseqüência de uma distorcida visão espiritual, que culmina em impaciência e incredulidade, boa parte da Igreja tem vivido numa total confusão. Quando nada podemos fazer, achamos que a nossa participação existe e é necessária. E quando podemos e temos que fazer alguma coisa, simplesmente cruzamos os braços e não movemos um dedo se quer. Achamos que temos alguma participação em nossa salvação e na dos irmãos. Lamentável engano. Por outro lado, nos esquivamos quanto ao nosso crescimento e amadurecimento espiritual. Não suportamos a idéia de sermos aperfeiçoados, pois no fundo sabemos que este processo requer de nós a nossa própria renúncia. Este é o nosso maior calo. Renunciar a nossa própria vida para que Cristo possa viver a sua vida em nós. Se quisermos ser discípulos do Senhor Jesus precisamos aprender a renunciar (Lc 14.33). Entrar pela porta estreita exige muito esforço (Lc 13.24). Negar a nossa vida ou alma implica em abrir mão das nossas vontades a fim de que o Espírito Santo possa edificar a Sua vontade em nós. Este é o ponto do qual fugimos desesperadamente. Quando Deus derramava as taças de ira sobre o Egito, Faraó fez algumas propostas a Moisés e Arão impondo-lhes certas condições. E em todas essas propostas havia sempre um mesmo objetivo, um alvo determinado, um fim específico, que era impedir o testemunho do Senhor, colocando obstáculos ao cumprimento do Seu propósito. Farei um breve comentário sobre apenas duas dessas propostas feitas por Faraó que estão registradas em Ex 8. 25,28. A primeira sugere que o povo de Deus oferecesse sacrifícios ao Senhor dentro do Egito, sob o seu total controle. Na falha desta, então Faraó permite que o povo saia dos limites do Egito, mas impõe que fiquem próximos às suas fronteiras. Que sagacidade! Não poderia vir de outro senão de lúcifer. O Egito, como já sabemos, representa o mundo, o século mau, e Faraó, a figura de satanás, do príncipe deste mundo, do deus que cega o entendimento dos incrédulos (Jo 12.31; 14.30; Gl 1.4; 2Co 4.4). Cultuar dentro do Egito ou em suas proximidades é continuar a andar em nossos próprios caminhos, fazendo nossas próprias vontades, totalmente expostos aos desejos dos nossos olhos, de nossa carne e à soberba da vida; é continuarmos debaixo do julgo do diabo. Podemos até duvidar de que possamos estar sujeitos a esta servidão, mas sabemos sim o significado da palavra renúncia para nós. A motivação de Faraó era justamente a de impedir que o povo pudesse enxergar importância dessa renúncia na sua vida de comunhão com o Senhor. Infelizmente irmãos, muitos cristãos estão aceitando as propostas do inimigo da nossa alma. Muitos têm rejeitado a renúncia e decidido viver em torno de suas próprias convicções. Quão bom será quando todos nós compreendermos o que significa "viver por meio dele". Pois só vivendo por Ele seremos aperfeiçoados. Não há outros caminhos. Não há atalhos. Há sim como dificultar, prorrogar, fugir ou até evitar no presente século, e muitos têm feito isso. Mas para vivermos eternamente na presença do Pai será necessário o aperfeiçoamento de todos os santos. Se não for agora, na era da graça, será na próxima, na era da justiça. Mas é algo simplesmente inevitável. Não há como escapar. Chegará o dia em que todos nós iremos ter que nos apresentar diante do tribunal de Cristo (2Co 5.10). Tanto os que aceitaram quanto os que resistiram ao aperfeiçoamento do Senhor. Deus expõe todo o Seu amor se dando aos homens através do Seu amado Filho "para que por ele vivamos". No verso 8 de 1Jo 4, o Senhor nos revela ser o próprio amor. Sendo assim, Ele não apenas tornou-se manifesto, mas continua a se manifestar através do nosso Senhor Jesus Cristo. Viver por meio Dele é estar Nele. No verso 13 de 1Jo 4, nos é revelado que a convicção desta posição nos é dada pela presença do Espírito Santo em nossa vida. Que tremendo irmãos! A Santíssima Trindade realizando a sua Obra! O Pai é revelado e ministrado a nós através do Filho pelo poder e agir do Espírito Santo. Portanto estar em Cristo é estar em Deus (1Jo 2.23; 4.15) e no Espírito (Jo 14.16-21,23). Cristo em nós (Gl 2.20) significa Deus e o Espírito Santo em nós (At 17.24; 1Co 3.16; Ef 2.22). Deus é amor, assim é o Espírito Santo e Cristo também. Portanto, viver por Cristo é viver por amor. Por isso quando amamos uns aos outros Deus permanece em nós e o seu amor é em nós aperfeiçoado. Precisamos passar por essa experiência para que no dia do Juízo, no dia em Ele se manifestar, tenhamos confiança e não sejamos confundidos por ele na Sua vinda (1Jo 2.28; 4.17). Só conheceremos o Senhor à medida que formos aperfeiçoados.


Conhecer

"Assim diz o Senhor: Não se glorie o sábio na sua sabedoria, nem o forte, na sua força, nem o rico, nas suas riquezas; mas o que se gloriar, glorie-se nisto: em me conhecer que eu sou o Senhor e faço misericórdia, juízo e justiça na terra; porque destas coisas me agrado, diz o Senhor" (Jr 9.23,24).


"Conheçamos e prossigamos em conhecer ao Senhor; como a alva, a sua vinda é certa; e ele descerá sobre nós como a chuva, como chuva serôdia que rega a terra" (Os 6.3).


Conhecer o Senhor é um processo eterno na vida dos membros de seu Corpo. Nunca iremos deixar de conhecê-Lo, pois Ele é o Pai da Eternidade e Sua Palavra é eterna (Is 9.6; 1Pe 1.25). À medida que avançamos em nosso aperfeiçoamento O conhecemos mais e temos uma maior comunhão com Ele. É preciso anelar por esse relacionamento. Não fomos escolhidos para vivermos na ignorância quanto à sua Pessoa. A vontade do Senhor é que os Seus filhos o conheçam completamente. Ele tem se mostrado e se revelado; tem se descoberto e exposto todo o Seu intento à Igreja. Através do seu Filho, o Pai se tornou visível, permitindo ser conhecido pelos seus eleitos (Jo 14.9). O Senhor é muito claro quanto ao seu imenso desejo de manter um profundo e íntimo relacionamento com aqueles que o temem e andam em retidão (Sl 25.14; Pv 3.32). Nós também somos transparentes quanto à nossa rejeição pelo Seu falar. Podemos até negar ou omitir, mas não temos feito quase nenhum esforço para aprendermos mais do Senhor. A falta ou deficiência desse conhecimento tem feito de nós, pessoas amargas e insensíveis. Muitas vezes perdemos a oportunidade de perceber o agir Dele nos pequenos detalhes de nossa vida. Temos sido anestesiados por nossa própria estupidez. Precisamos admitir a necessidade de sermos instruídos e exortados pelo Senhor. Necessitamos prestar atenção ao que Ele tem nos falado; ouvir com interesse a Sua voz. É preciso escutar, compreender, concordar e obedecer aos Seus ensinamentos. Infelizmente amados irmãos, não parece haver disposição para isto. Temos visto grande parte da igreja resistindo com todas as suas forças a este conhecimento. Quando verdadeiramente começamos a O conhecer, passamos a distinguir o que vem e o que não vem Dele. Ele é quem nos dá o discernimento, nos dá sabedoria e habilidade de perceber. Ele nos ensina a vigiar e sermos prudentes e cautelosos. Conhecer o Senhor só é possível através da experiência pessoal que Ele mesmo tem solicitado de sua Igreja. Através desta experiência, certamente iremos ter uma visão mais límpida do Seu eterno propósito. Por isso, precisamos almejar por experimentar o Senhor. Precisamos voltar os nossos olhos para Ele e atendermos ao Seu chamado. A igreja tem se perdido em meio a tantas coisas criadas por nós mesmos e vive um momento muito confuso. A soberania de Deus tem sido totalmente desconsiderada por inúmeros de seus filhos. O amor, que é simplesmente fundamental em nosso relacionamento com o Senhor e com o próximo, tem sido deixado de lado. Parece não existir nenhum temor ao Senhor. A negligência com a palavra do Senhor e a exacerbada importância dada ao bem estar humano tem sido uma armadilha diabólica onde muitos de nós temos caído. Exemplificarei falando de um assunto grandemente deturpado no meio do povo de Deus, e que tem sido excessivamente explorado. A prosperidade. No mundo, freqüentemente está relacionada á condição financeira das pessoas e isto tem sido usado abertamente pela igreja para o desgosto do Senhor e nosso também. Ser próspero, segundo a palavra do Senhor, é simplesmente conhecê-Lo. Quanto mais O conhecemos, mais nos tornamos prósperos; "... mas o que se gloriar, glorie-se nisto: em me conhecer...": a palavra conhecer aqui é sakal (hebraico); é usada para falar de cautela, prudência, discernimento, entendimento, compreensão, ensino, ponderação, consideração, atenção, mas também nos fala de prosperidade e também de sucesso. Portanto não é através dos resultados obtidos em nossa vida social, seja na área material ou espiritual, que medimos nosso sucesso e sim pelo quanto temos conhecido o Senhor. Sucesso nos fala de conquista, assim, quanto mais O conhecemos, mais O conquistamos. Conquistar Cristo e ser conquistado por Ele representa o verdadeiro viver cristão. Diante das maldades e perversidades deste mundo e da complacência de muitos irmãos necessitamos perseverar na doutrina dos apóstolos. Sua segunda vinda é certa e deve ser a nossa esperança (Jo 14.3; Tg 5.7,8). Por estarmos tão distantes do Senhor Jesus, a nossa indiferença quanto a esta maravilhosa promessa é extremamente visível àqueles que podem ver.


- O infinito amor de Deus


"Aquele que não ama não conhece a Deus, pois Deus é amor. Ninguém jamais viu a Deus; se amarmos uns aos outros, Deus permanece em nós, e o seu amor é, em nós, aperfeiçoado. Nisto conhecemos que permanecemos nele, e ele, em nós: em que nos deu do seu Espírito" (1Jo 4.8,12,13).


No decorrer deste estudo já temos falado sobre o amor do Senhor. Um amor que nos leva a amá-Lo e amar os nossos irmãos. Mas se faz necessário falarmos um pouco mais sobre algo que é tão elevado. Posteriormente, nos outros tópicos que iremos compartilhar, se o Senhor permitir, continuaremos a falar sobre este básico, fundamental, magnífico e essencial assunto.

Falar do amor de Deus não é uma tarefa fácil. Faltam palavras em nossos vocabulários para exprimirmos o seu pleno significado, pois se trata do amor genuíno, puro, ágape, ilimitado, infinito e eterno (Jr 31.3). Este amor é paciente, benigno, que não procura os seus interesses, que se regozija com a verdade, que tudo suporta, que jamais acaba, que é perfeito, a maior de todas as virtudes (1Co 13). Este é o amor que nos constrange (2Co 5.14). Nos versos acima podemos observar que sem amor não pode haver conhecimento nem comunhão. O amor é a essencial mola divina que sustenta os nossos relacionamentos. É o combustível que faz funcionar o organismo vivo chamado Corpo de Cristo. O amor é o vínculo da perfeição (Cl 3.14). Isto é simplesmente magnífico! A palavra "vínculo" neste verso é o termo "sundesmos" (grego) que significa: "aquilo com que se amarra; aquilo que é amarrado junto". Esta palavra representa os ligamentos que unem os membros do corpo humano. Sabemos que o relacionamento de Cristo com a sua Igreja, e dos seus membros entre si, é comparado ao funcionamento do nosso corpo natural (1Co 12). Portanto, amados irmãos, é este amor que nos une. Este amor é a expressão do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Deus é amor, portanto o amor estar em Jesus, porque o Pai está no Filho, assim como o Filho está no Pai (Jo 14.10). Por causa do Seu amor, o Senhor deu o Seu Filho a nós (Jo 3.16). O amor de Deus é simplesmente incompreensível à mente natural. Só em Cristo temos o privilégio de compreendê-lo, pois Ele é a completa e exata expressão do Seu amor (Hb 1.3). Cristo é a personificação do amor de Deus. Ele é o próprio amor; é o único alicerce e fundamento de sua Igreja (1Co 3.11); o único que a sustenta e a faz funcionar. Este é o amor que nos faz amar a Deus e ao próximo (1Jo 4.19-21). Ele está cumprindo a Sua promessa quanto ao povo que escolheu desde a eternidade passada (Dt 14.2; Ef 1.4; Hb 10.23; 2Pe 3.9; 1Jo 2.25); um povo que verdadeiramente O ama, separado para ser a Sua habitação (Sl 132.13; Tg 2.5); um povo que tem recebido a Sua disciplina para que possa herdar o seu Reino. Precisamos estar atentos ao trabalhar do Senhor em nossas vidas, pois somos provados a todo instante. Irmãos, como precisamos do intenso tratamento de Deus! Por mais que não entendamos a severidade com que muitas vezes Ele nos trata, é por meio do amor que Ele o faz (Hb 12.6,7). É através deste amor que sofremos, somos disciplinados, chegaremos à Sua presença e estaremos face a face com Ele (1Co 13.12). O amor é o veículo pelo qual o Seu caráter é construído em nós. É através do amor que Cristo é ministrado a nós, e precisa ser através deste amor que temos que ministrar Dele e para Ele. O amor é o caminho pelo qual Deus nos aperfeiçoa. Só o Seu amor que é perfeito pode nos levar à perfeição. O amor é o caminho que nos conduz ao Seu conhecimento e comunhão. Foi o amor que levou o Senhor Jesus até a Cruz. É este amor que deve mover o relacionamento entre os membros do Seu corpo, sendo assim revelado a todos os homens. É este amor que nos leva a renunciarmos a nossa própria vida. É esse amor que nos leva a considerar os nossos irmãos superiores a nós (Fp 2.3); a darmos a nossa vida pelos nossos irmãos (1Jo 3.16). Só através deste amor podemos caminhar o caminho de três dias (Ex 5.3, 3.18, 8.27). É este amor que nos conduz no caminho da Cruz. É por este amor que confessamos o nome do Senhor, guardamos a sua Palavra, permanecemos Nele, somos aperfeiçoados e continuaremos a O conhecer por toda a eternidade.

George Stéphano M. Falcão

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