O homem corrompe as Instituições Divinas

quinta-feira, 14 de maio de 2009


As páginas da história humana têm estado sempre deploravelmente manchadas. São, do princípio ao fim, uma história de fracasso. No meio das delícias do Éden, o homem prestou atenção às mentiras do tentador (Gn 3). Preservado do julgamento, pela mão do amor de eleição, e introduzido na terra restaurada, tornou-se culpado do pecado de intemperança (Gn 9). Depois de condu­zido, pelo braço estendido de Jeová, ao país de Canaan, "deixaram ao Senhor: e serviram a Baal e a Astarote" (Jz 2:13). Colocado sobre o pináculo do poder e glória terrestre, com riquezas incontáveis a seus pés e todos os recursos da natureza à sua disposição, deu seu coração a mulheres estranhas incircuncisas (1 Rs 11). Apenas foram promulgadas as bênçãos do evangelho logo se tornou necessária a profecia do Espírito Santo quanto aos "lobos cruéis", "apostasia" e toda a sorte de fracasso (At 20:29; 1 Tm 4:1-3; 2 Tm 3:1 -5; 2 Pe 2; 2 Jd 4). E como corolário de tudo, temos o testemunho profético da apostasia humana em pleno esplendor da glória do milênio (Ap 20:7-10).


É assim que o homem perverte tudo. Elevai-o a uma posição de mais alta dignidade, e ele se aviltará. Dotado dos mais amplos privilégios, ele abusará deles. No meio de uma profusão de rique­zas, ele mostrar-se-á ingrato. Colocado no meio das instituições mais imponentes, ele corrompê-las-á. Tal é o homem! Tal é a natureza, nas suas mais belas formas e sob as circunstâncias mais favoráveis!


Nadabe e Abiú


Estamos, pois, preparados, de certo modo, para ouvir as palavras com que abre o nosso capítulo. "E os filhos de Arão, Nadabe e Abiú, tomaram cada um o seu incensário, e puseram neles fogo, e puseram incenso sobre ele, e trouxeram fogo estranho perante a face do Senhor, o que lhes não ordenara". Que contraste com a cena da última parte do nosso estudo! Ali tudo foi feito "como o Senhor ordenou", e o resultado foi a manifestação da glória. Aqui é feita qualquer coisa que o Senhor não ordenam, e o resultado é o juízo. Apenas cessou o eco do grito de vitória e já os elementos de um culto corrompido estavam preparados. Apenas a posição divina lhes havia sido atribuída e já era deliberadamente abandonada por negligência do mandamento divi­no. Apenas estes sacerdotes acabavam de ser instalados quando falham gravemente no cumprimento das suas funções sacerdotais.


E em que consistiu a sua faltai Eram falsos sacerdotes? Eram apenas pretendentes a este oficiou De modo nenhum. Eram filhos legítimos de Arão — verdadeiros membros da família sacerdotal—, sacerdotes devidamente ordenados. Os vasos do seu ministério e as suas vestes sacerdotais também estavam em ordem. Em que consis­tiu, pois, o seu pecado? Mancharam as cortinas do tabernáculo com sangue humano, ou profanaram o recinto sagrado com algum crime que ofendesse a moral? Não existem provas de que tivessem feito tais coisas. Este foi o seu pecado: "...trouxeram fogo estranho perante a face do Senhor, o que lhes não ordenara". Aqui estava o seu pecado. Afastaram-se na sua adoração da Palavra de Jeová que os havia claramente instruído acerca do modo do seu culto.


Já aqui aludimos à plenitude divina e suficiência da Palavra do Senhor quanto a todos os pormenores do serviço sacerdotal. Não havia sido deixada nenhuma lacuna para o homem introduzir aquilo que lhe parecesse conveniente ou desejável. "Isto é o que o Senhor ordenou" era suficiente. Esta ordem tornava tudo muito simples e claro. Nada se exigia do homem senão um espírito de implícita obediência à ordem divina. Mas falhou nisto.


O homem tem mostrado sempre má disposição em seguir o caminho de estrita adesão à Palavra de Deus. Os atalhos parece terem sempre apresentado encantos irresistíveis para o pobre coração hu­mano. "As águas roubadas são doces, e o pão comido a ocultas é suave" (Pv 9:17). É a linguagem do inimigo; porém o coração humilde e obediente sabe muito bem que o caminho da submissão à Palavra de Deus é o único que conduz a "águas" que são realmente "doces" ou o "pão" que pode verdadeiramente ser chamado "suave". Nadabe e Abiú podiam pensar que uma espécie de "fogo" era tão boa como a outra; porém não era da sua competência decidir nesse sentido. Deveriam ter atuado segundo a Palavra do Senhor; mas, em lugar disso, agiram segundo a sua própria vontade, e colheram os seus terríveis frutos. "Mas não sabe que ali estão os mortos; que os seus convidados estão nas profundezas do inferno" (Pv 9:18).


O Juízo de Deus sobre a Sua Casa


"Então, saiu fogo de diante do Senhor, e os consumiu; e morreram perante o Senhor". Como isto é profundamente solene! Jeová habi­tava no meio do Seu povo, para governar, julgar e atuar, segundo os direitos da Sua natureza, nos versículos finais do capítulo 9 lemos: "...o fogo saiu de diante do Senhor e consumiu o holocausto e a gordura sobre o altar". O Senhor mostrava assim que aceitava um sacrifício verdadeiro. Porém em capítulo 10 vemos o Seu juízo sobre os sacerdotes desviados. É uma dupla ação do mesmo fogo. O holocausto subia como cheiro suave! Ao passo que o "fogo estranho" foi rejeitado como uma abominação. O Senhor foi glorificado no primeiro; mas teria sido uma desonra aceitar o segundo. A graça divina aceitava e deleitava-se naquilo que era uma figura do precioso sacrifício de cristo; a santidade divina rejeitava que era fruto da vontade corrompida do homem-vontade que nunca é mais horren­da e abominável como quando se imiscui nas coisas de Deus.


"E disse Moisés a Arão: Isto é o que o Senhor falou, dizendo: Serei santificado naqueles que se cheguem a mim, e serei glorificado diante de todo o povo". A dignidade e glória de toda a economia dependiam da estrita manutenção dos justos direitos de Jeová. Se estes direitos fossem menosprezados, estaria tudo perdido. Se fosse permitido ao homem profanar o santuário da presença divina por meio do "fogo estranho", era o fim de tudo. Não se podia permitir que subisse do incensário do sacerdote alguma coisa que não fosse fogo puro, ateado do altar de Deus, e alimentado com "o incenso puro moído". Bela ilustração da verdadeira e santa adoração, da qual o Pai é o objetivo, Cristo o assunto e o Espírito Santo o poder.


Não se pode permitir que o homem introduza as suas idéias ou invenções no culto a Deus. Todos os seus esforços só podem ter como resultado a apresentação de "fogo estranho" — incenso impuro — ou seja um culto falso. As suas melhores tentativas não passam de uma abominação aos olhos de Deus.


Não me refiro aqui aos esforços honestos de espíritos sinceros que buscam paz com Deus — esforços sinceros de consciências retas, ainda que não iluminadas, para chegarem ao conhecimento do perdão dos pecados, pelas obras da lei ou pelas ordenações de um sistema religioso. Sem dúvida, tais pessoas acabarão, em virtude da infinita bondade de Deus, por entrar na luz clara do gozo e conhe­cimento da salvação Esses esforços provam claramente que se busca diligentemente a paz; embora, ao mesmo tempo, provem clara­mente que a paz ainda não foi alcançada.


Nunca ninguém seguiu sinceramente a luz tênue que houvesse incidido sobre a sua consciência sem haver recebido, a seu tempo, mais. "Ao que tem ser-lhe-á dado"." A vereda dos justos é como a luz da aurora que vai brilhando mais e mais, até ser dia perfeito" (Pv 4:18).


Tudo isto é tão claro como é animador; mas não deixa inteira­mente de parte a questão da vontade humana e as invenções ímpias em relação com o serviço e culto de Deus. Tais invenções provoca­rão, inevitavelmente, mais cedo ou mais tarde, o juízo solene de um Deus santo e justo que não pode permitir que se escarneça dos Seus direitos. "Serei santificado naqueles que se cheguem a mim, e serei glorificado diante de todo o povo."


Os homens serão tratados segundo a sua profissão. Se buscam com sinceridade, certamente, encontrarão; porém quando se apro­ximam como adoradores j á não são considerados como aqueles que buscam, mas, sim, como aqueles que professam ter achado o que procuravam; e, então, se o seu incensário sacerdotal fumega com fogo impuro, se oferecem a Deus os elementos de um culto corrompido, se professam trilhar os Seus átrios sem haverem sido lavados, nem santificados nem humilhados, se põem sobre o Seu altar as invenções da sua própria vontade corrompida, qual será o resultado? O julgamento! Sim, cedo ou tarde, o juízo virá. Pode demorar; mas certamente virá. Não poderia ser de outro modo.


E não só o julgamento há - de vir, por fim, como se verifica, em cada caso, a rejeição, por parte do céu, de todo o culto que não tem o Pai por seu objetivo. Cristo por seu assunto e o Espírito Santo como poder.


A santidade de Deus está tão pronta a rejeitar todo o "fogo estranho" como a Sua graça está pronta a aceitar os mais fracos suspiros de um coração sincero. Deus tem de derramar o Seu justo juízo sobre todo o culto falso, não obstante, "não esmagará a cana quebrada, e não apagará o morrão que fumega" (Mt 12:20). Este pensamento é muito solene quando recordamos os milhares de incensários deitando fumo com fogo estranho nos vastos domínios da cristandade. Que o Senhor, em Sua rica graça, aumente o número dos verdadeiros adoradores, que adoram o Pai em espírito e em verdade (João 4). É infinitamente melhor pensar na verdadeira adoração ascendendo de corações honestos até ao trono de Deus, do que contemplar, ainda que por um momento, o culto corrompido sobre o qual o juízo divino será dentro em pouco derramado.


Todo aquele que conhece, por graça, o perdão dos seus pecados pelo sangue expiador de Jesus pode adorar o Pai em espírito e em verdade; pois conhece o justo fundamento, o próprio objetivo, o verdadeiro assunto e o poder real do culto. Estas coisas só podem ser conhecidas de um modo divino. Não pertencem à natureza ou à terra. São espirituais e celestiais. Uma grande parte do que entre os homens passa por ser culto a Deus é, afinal, apenas "fogo estranho".


Não há fogo puro nem incenso puro, e, portanto, o Céu não o aceita; e, embora não se veja cair o julgamento divino sobre aqueles que oferecem tal culto, como caiu sobre Nadabe e Abiú, é somente porque "Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo, não lhes imputando os seus pecados" (2 Co 5:19). Não é porque o culto seja aceitável a Deus, mas porque Deus é misericordioso.


Contudo, aproxima-se rapidamente o tempo em que o fogo estranho será apagado para sempre, quando o trono de Deus não será mais insultado pelas nuvens do incenso impuro ascendendo de adoradores impuros; quando tudo que é adulterado será abolido e todo o universo será como um vasto e magnif icente templo, no qual o verdadeiro Deus, Pai, Filho, e Espírito Santo, será adorado pelos séculos dos séculos.


É isto o que os remidos esperam; e, bendito seja Deus, dentro de pouco tempo os seus ardentes desejos serão plenamente satisfeitos, e satisfeitos para sempre — sim, satisfeitos de tal maneira que cada um deles confessará comovedoramente como a rainha de Sabá: "Eis que me não disseram metade" (1 Rs 10:7). Que o Senhor apresse esse tempo feliz!


Voltemos agora ao nosso solene capítulo, e, demorando-nos um pouco mais com ele, procuremos reunir e levar conosco algumas das suas salutares instruções, porque são verdadeiramente benéficas numa época como esta, em que há tanto "fogo estranho".


"Porém Arão Calou-se"


Existe qualquer coisa extraordinariamente admirável e tocante na maneira como Aarão recebeu o duro golpe da justiça divina. "Aarão calou-se". Era uma cena solene. Os seus dois filhos mortos a seu lado— mortos pelo fogo do juízo divino ('). Acabava de os ver revestidos com as suas vestes de glória e beleza — lavados, paramentados e ungidos. Tinham estado com ele perante o Senhor, para serem consagrados ao ministério sacerdotal. Tinham oferecido, em companhia dele, os sacrifícios determinados. Tinham visto os raios da glória divina irradiando da coluna de nuvem (— sinal da presença de Deus —); tinham visto cair o fogo do Senhor sobre o sacrifício e consumi-lo. Tinham ouvido irromper da assembléia prostrada em adoração as exclamações de júbilo. Tudo isto acabava de passar ante seus olhos; mas agora, enfim, os seus dois filhos jaziam a seu lado nas garras da morte. O fogo do Senhor, que pouco antes fora alimentado por um sacrifício aceitável, tinha, agora, caído em juízo sobre eles, e que podia ele dizer? "Arão calou-se".


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(1) Para que o leitor se não sinta perturbado com a dificuldade a respeito das almas de Nadabe e Abiú, devo dizer que uma tal questão nunca deve ser levantada. Em casos como o de Nadabe e Abiú, em Levítico 10; Core e a sua companhia, em Números 16; toda a congregação, exceto Josué e Calebe, cujas ossadas ficaram no deserto, segundo Números 14 e Hebreus 3; Acã e sua família, Josué 7; Ananias e Safira, em Atos 5; os que foram julgados por abusos à mesa do Senhor, I Coríntios 11, a questão da salvação da alma nunca é levantada. Devemos ver neles simplesmente os atos solenes da administração de Deus no meio do Seu povo. Este conhecimento alivia a alma de todas as dúvidas.


O Senhor habitava entre os Querubins para julgar o Seu povo em todas as coisas; e Deus Espírito Santo habita na Igreja para ordenar e governar, segundo a perfeição da Sua presença. A Sua presença era tão real e pessoal que Ananias e Safira puderam mentir-Lhe e Ele pôde executar o juízo sobre eles. Foi uma exibição tão real e imediata dos Seus atos administrativos como temos no caso de Nadabe e Abiú ou Acã ou qualquer outro.


É uma grande verdade de que se deve tomar nota. Deus não só é a favor do Seu povo como está com ele e neles. Deve contar-se com Ele em todas as coisas, quer grandes, quer pequenas. Ele está sempre presente para dar consolação e auxílio. Está ali para castigar e julgar. Está presente para as necessidades de cada momento. Ele é suficiente. Que a fé espere n'Ele. "Onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, aí estou eu no meio deles" (Mt 18:20). E, certamente, onde Ele está nada mais precisamos.


"Emudeci; não abro a minha boca, porquanto tu o fizeste" (S139:9). Era a mão de Deus; e ainda que pudesse parecer muito pesada, no juízo da carne e do sangue, ele só tinha que curvar a cabeça, em temor silencioso e reverente aquiescência. "Emudeci... tu o fizeste" Era a atitude mais adequada em presença do juízo divino. Aarão, sem dúvida, sentiu que as próprias colunas da sua casa eram sacudidas pelo trovão do juízo divino; e portanto só podia permanecer em silencioso assom­bro diante daquela cena aterradora. Para um pai privado dos seus dois filhos, daquela maneira e em tais circunstâncias, não era um aconte­cimento vulgar.


Isto constituiu um comentário profundamente solene às palavras do Salmista: "Deus deve ser um extremo tremendo na assembléia dos santos, e grandemente reverenciado por todos os que o cercam" (SI 89:7). "Quem te não temerá, ó Senhor, quem não glorificará o teu nome?" Possamos nós aprender a andar suavemente na presença divina e a pisar os átrios do Senhor com os pés descalços e espírito reverente. Que o nosso incensário de sacerdotes contenha sempre como único combustível o incenso batido das múltiplas perfeições de Cristo e que a santa chama seja sempre ateada pelo poder do Espírito. Tudo o mais não é somente inútil como vil. Tudo o que proceda da energia da natureza, tudo que é resultado da ação da vontade humana, o mais fragrante incenso da imaginação do ho­mem, o mais intenso ardor da devoção natural, tudo isso redundurá em "fogo estranho" e atrairá o juízo solene do Deus Todo-Poderoso. Oh, quem nos dera um coração inteiramente fiel e um espírito de adoração continuamente na presença de nosso Deus e Pai!


Mas não desanime nem se assuste qualquer coração sincero, embora tímido. Sucede com freqüência que aqueles que deveriam alarmar-se manifestam indiferença; enquanto que outros, para quem o Espírito de graça só destina palavras de conforto e estímulo, aplicam a si próprios, erradamente, as advertências assustadoras das Sagradas Escrituras. Sem dúvida, o coração humilde e contrito, que treme perante a Palavra do Senhor, está em bom estado; porém devemos recordar que um pai adverte o filho, não porque deixa de o considerar seu filho, mas porque é seu filho; e uma das melhores provas deste parentesco é a disposição de receber a advertência e aproveitá-la. A voz paterna, ainda mesmo que o seu tom seja de grave admoestação, penetrará no coração do filho, mas nunca para despertar dúvidas quanto ao seu parentesco com aquele que fala. Se um filho duvidasse da sua filiação todas as vezes que fosse repreen­dido pelo pai, seria digno de lástima. O julgamento que acabara de cair sobre a casa de Aarão não o fez duvidar que fosse realmente sacerdote. Teve apenas o efeito de ensinar-lhe como devia conduzir-se nessa elevada e santa posição.


Nem o Juízo de Deus Deve Abalar a Atividade Sacerdotal


"E Moisés disse a Arão e a seus filhos Eleazar e Itamar: Não descobrireis as vossas cabeças, nem rasgareis os vossos vestes, para que não morrais, nem venha grande indignação sobre toda a congrega­ção; mas os vossos irmãos, toda a casa de Israel, lamentem este incêndio que o Senhor acendeu. Nem saireis da porta da tenda da congregação, para que não morrais; porque está sobre vós o azeite da unção do Senhor. E fizeram conforme à palavra de Moisés" (Lv 10:6 - 7).


Arão, Eleazar e Itamar deviam permanecer impassíveis na sua elevada posição — na sua santa dignidade — na sua posição de santidade sacerdotal. Nem a falta, nem o seu conseqüente julgamento deviam interferir com os que usavam as vestes sacerdotais e eram ungidos com "o azeite da unção do Senhor". Esse azeite havia-os colocado num sagrado recinto onde as influências do pecado, da morte e do juízo não podiam atingi-los. Os que estavam fora, que estavam a uma distância do santuário, que não estavam na posição de sacerdotes, podiam "lamentar o incêndio"; mas quanto a Arão e seus filhos deviam continuar no desempenho das suas santas funções, como se nada tivesse acontecido. Sacerdotes no santuário não deviam lamentar-se, mas adorar. Não deviam chorar, como na presença da morte, mas curvar as cabeças ungidas na presença da visitação divina. "O fogo do Senhor" podia agir, e fazer a sua obra de juízo; mas, a um verdadeiro sacerdote, não interessava o que esse "fogo" tinha vindo fazer, se vinha para expressar aprovação divina consumindo o sacrifício, ou o desagra­do divino consumindo os que ofereciam "fogo estranho", ele só tinha que adorar. Aquele "fogo" era uma manifestação bem conhecida da presença divina em Israel, e que atuasse em "misericórdia ou julgamen­to" a obrigação de todo o verdadeiro sacerdote era adorar. "Cantarei a misericórdia e o juízo: a ti, Senhor, cantarei."


Há em tudo isto uma profunda e santa lição para a alma. Os que são conduzidos para perto de Deus no poder do sangue e pela unção do Espírito Santo devem mover-se numa esfera fora do alcance das influências naturais. A proximidade de Deus dá à alma um tal conhecimento dos Seus caminhos, uma tal compreensão da justiça de todas as Suas dispensações que nos habilita a adorar na Sua presença, ainda mesmo que o golpe da Sua mão nos tenha tirado o objeto das maiores afeições. Pode perguntar-se, teremos de ser estóicos? E eu pergunto, Arão e seus filhos eram estóicos? Não; eles eram sacerdotes. Não sentiam como os outros homens1? Sim, mas adoravam como sacerdotes. Isto é profundo, e abre-nos um hori­zonte de pensamentos, de sentimentos e de experiências, no qual a natureza humana nunca poderá mover-se — uma região da qual nada conhece, apesar de toda a sua orgulhosa cultura e sentimentalismo. Devemos andar no santuário de Deus na verdadeira energia sacerdotal, a fim de podermos compreender a profundidade, o significado e o poder de tais santos mistérios.


O profeta Ezequiel foi chamado, nos seus dias, para aprender esta lição: "veio a mim a palavra do Senhor, dizendo: Filho do homem, eis que tirarei de ti o desejo dos teus olhos de um golpe, mas não lamentarás, nem chorarás, nem te correrão as lágrimas. Refreia o teu gemido; não tomaras luto por mortos; ata o teu turbante, e coloca nos pés os teus sapatos; e não te rebuçarás e o pão dos homens não comerás... e fiz pela manhã como se me deu ordem" (Ez 24:15-18). Dir-se-á que tudo isto era um "sinal" para Israel. É verdade, mas prova que tanto o testemunho profético como o culto sacerdotal devem elevar-nos acima de todas as exigências e influências da natureza e da terra. Os filhos de Arão e a mulher de Ezequiel foram justificados de um só golpe; e contudo, nem o sacerdote nem o profeta deviam descobrir a sua cabeça nem verter uma lágrima.


Oh, prezado leitor, que progresso tem feito cada um de nós nesta profunda lição? Não há dúvida que tanto o leitor como o autor têm de fazer a mesma confissão humilhante. Muitas vezes andamos como "homens do mundo" e "comemos o pão dos homens". Outras vezes somos privados dos nossos altos privilégios sacerdotais pelos manejos da natureza e as influências da terra. Devemos vigiar contra estas coisas. Nada pode preservar o coração do poder do mal ou manter a sua espiritualidade senão a consciência da proximidade de Deus como sacerdotes. Todos os crentes são sacerdotes e nada pode privá-los dessa posição. Mas ainda que não possam perder a sua posição, podem cometer faltas graves no cumprimento das suas funções. Estas duas coisas não se distinguem muito bem. Há alguns que, ocupados com a preciosa verdade da segurança do crente, esquecem a possibilidade de falharem nas suas funções sacerdotais. Outros, pelo contrário, absor­tos com as falhas, ousam pôr em dúvida a segurança.


Desejamos que o leitor se guarde destes erros. É preciso estar-se bem fundado na doutrina divina da eterna segurança de todos os membros da verdadeira casa sacerdotal; mas deve recordar-se tam­bém que existe a possibilidade de falha, daí a necessidade constante de oração, para não cairmos.


Oxalá que todos aqueles que têm sido levados ao conhecimento da elevada posição de sacerdotes de Deus sejam preservados, por Sua graça celestial, de toda a sorte de faltas, seja contaminação pessoal, seja a apresentação de qualquer das muitas formas de "fogo estranho" que tanto abundam na igreja professa.


A Abstinência de tudo que Ativa a Ação da Carne


"E falou o Senhor a Arão, dizendo: Vinho ou bebida forte tu e teus filhos contigo não bebereis, quando entrardes na tenda da congregação, para que não morrais; estatuto perpétuo será isso, entre as vossas gerações, para fazer diferença entre o santo e o profano e entre o imundo e o limpo e para ensinar aos filhos de Israel todos os estatutos que o Senhor lhes tem falado pela mão de Moisés" (versículos8all).


O efeito do vinho é excitar a natureza humana, e todo o sentimen­to natural prejudica aquela condição tranqüila e equilibrada da alma que é essencial ao desempenho das funções sacerdotais. Em vez de u tilizar meios para excitar a natureza, devemos tratá-la como uma coisa que não tem existência. Só assim estaremos em condição moral para servir no santuário e para formar um juízo imparcial entre o que é imundo e o que é puro, e para explicar e transmitir o pensamento de Deus. Compete a cada um julgar, por si mesmo, o que, no seu caso particular, atuaria como "vinho ou bebida forte" (1).


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(1) Alguns têm pensado que, devido ao lugar especial que esta recomendação a respeito do vinho ocupa, Nadabe e Abiú teriam estado debaixo da influência de bebida forte, quando ofereceram o ''fogo estranho". Mas, seja como for, devemos estar agradecidos por este princípio tão valioso referente à nossa conduta, como sacerdotes espirituais. Temos de evitar tudo que produz os mesmos efeitos sobre o homem espiritual que a bebida forte produz sobre o homem físico.


Desnecessário é dizer que o crente deve ser propriamente zeloso quanto ao uso do vinho ou bebida forte. Timóteo, como sabemos, precisou de uma recomendação apostólica para se convencer até mesmo a tocar-lhe, por amor da sua saúde (1 Tm 5). Uma agradável prova da abstinência habitual de Timóteo e do amor solícito do Espírito por intermédio do apóstolo. Devo dizer que o nosso sentido moral sente--se ofendido por ver crentes fazendo uso de bebida forte em casos que, seguramente, não necessitam dela como remédio. Trememos ao ver um crente tornar-se um simples escravo de um hábito, seja o que for esse hábito. É uma prova de que não mantém o seu corpo em sujeição e corre o perigo de ser "reprovado" (1 Co 9:27).


As coisas que excitam a natureza humana são na verdade múltiplas — a riqueza, a ambição, a política e uma diversidade de coisas de competição de que estamos rodeados. Todas estas coisas atuam como poderosos excitantes sobre a natureza humana, e tornam-nos inteiramente incapazes de todo o serviço sacerdotal. Se o coração está cheio do sentimento de orgulho, de cobiça ou de rivalidade, é absolutamente impossível gozar o ar puro do santuário ou cumprir as sagradas funções do ministério sacerdotal. Os ho­mens falam da versatilidade do gênio humano, ou da facilidade com que se passa rapidamente de uma coisa a outra. Mas por muito versátil que seja o gênio do homem não consegue fazê-lo passar de um círculo profano de assuntos literários, comerciais ou políticos, para o santo retiro do santuário da presença divina; nem esse gênio poderá jamais habilitar os olhos ofuscados pelas influências de tais cenas a discernir, com precisão sacerdotal, a diferença entre o que é "santo" e "profano", e entre o "imundo" e o "puro". Não, prezado leitor; os sacerdotes de Deus têm de manter-se separados do "vinho e bebida forte". O seu caminho é um caminho de santa separação e abstração. Têm de elevar-se muito acima das influências dos gozos terreais assim como das dores do mundo. Se alguma coisa têm a fazer com "bebida forte" é oferecê-la no santuário como libação ao Senhor (Nm 28:7). Por outras palavras, a alegria dos sacerdotes de Deus não é a alegria da terra, mas a do céu, a do santuário. "A alegria do Senhor é a vossa força."


Oh, se ponderássemos profundamente estas santas instruções! Sem dúvida necessitamos muito de o fazer. Se menosprezarmos as nossas responsabilidades sacerdotaís, tudo estará em desordem. Quando contemplamos o acampamento de Israel, podemos obser­var três círculos, e a forma como o círculo mais interior tinha o seu centro no santuário. Havia primeiro o círculo dos guerreiros (Nm le 2). A seguir o círculo dos levítas em volta do tabernáculo (Nm 3 e 4). E, finalmente, o círculo mais interior dos sacerdotes que ministravam no lugar santo. Ora, lembremo-nos de que o crente é chamado para se mover em todos estes círculos. Entra na luta como guerreiro (Ef 6:11-17; 1 Tm 1:18; 6:12; 2 Tm4-7). Serve como um levita no meio dos seus irmãos, segundo a sua capacidade e esfera (Mt 25:14-15; Lc 19:12-13). Finalmente, sacrifica e adora, como sacerdote, no lugar santo (Hb 13:15 -16; 1 Pd 2:5 - 9). Este último ofício durará para sempre. E, além disso, é segundo a maneira acertada como nos movemos nesse santo círculo que todas as outras relações e responsabilidades são retamente desempenhadas.

Por isso, tudo que nos incapacita para as nossas funções sacerdotais — tudo que nos afasta do centro desse círculo mais interior em que é nosso privilégio mover-nos — tudo, em suma, que tende a desorganizar a nossa condição de sacerdotes ou a obscurecer a nossa visão sacerdotal deve forçosamente contribuir para nos tornar inaptos para o serviço que somos chamados a prestar e para a guerra que somos chamados a sustentar.


São de peso estas considerações. Fixemo-nos nelas. O coração tem de ser reto, a consciência pura, o olhar simples, e a visão espiritual límpida. Os interesses da alma no lugar santo devem ser fiel e diligentemente servidos, de outro modo tudo irá mal. A comunhão particular com Deus deve ser mantida, de contrário seremos inúteis, como servos, e como guerreiros, seremos vencidos. E inútil apresarmo-nos e correr cá e lá, naquilo que chamamos serviço ou entregarmo-nos a palavras ocas sobre a armadura e a luta do cristão.


Se não conservamos as nossas vestes sacerdotais e se não nos guardamos de tudo quanto possa excitar a nossa natureza certa­mente cairemos. O sacerdote deve guardar cuidadosamente o seu coração, de contrário como levita falhará, e como guerreiro será derrotado.


É, repito, dever de cada um dar-se conta do que, para ele, constitui o "vinho e a bebida forte", o que é que o excita, e o que afeta a sua percepção espiritual ou ofusca a sua visão sacerdotal. Pode ser um leilão, uma feira de gado, um periódico, ou uma ninharia. Não importa o que seja, se contribui para nos excitar, seremos desclas­sificados para o ministério sacerdotal; e se somos desclassificados como sacerdotes, somos inúteis para tudo. Porque o nosso êxito, por todos os lados em todos os pormenores do ministério, depende da medida em que cultivarmos um espírito de adoração.


Portanto, exercitemo-nos num espírito de autocrítica, e redo­bremos de vigilância sobre os nossos hábitos, a nossa conduta e a escolha das nossas companhias; e quando, pela graça, descobrimos qualquer coisa que, de algum modo, contribui para nos tornar inaptos para os santos exercícios do santuário, deixemo-la, custe o que custar. Não nos deixemos escravizar por qualquer hábito. A comunhão com Deus deve ser mais querida dos nossos corações do que qualquer coisa mais; e na medida em que apreciarmos essa comunhão vigiaremos e oraremos e estaremos em guarda contra tudo que pode privar-nos dela — tudo quanto possa excitar, turbar ou prejudicar (1).


Como Permanecer na Presença Divina quando a Carne Acabou se Manifestando?


"E disse Moisés a Arão, e a Eleazar, e a Itamar, seus filhos, que lhe ficaram: Tomai a oferta de manjares, restante das ofertas queima­das ao Senhor, e comei-a sem levedura junto ao altar, porquanto uma coisa santíssima é. Portanto, o comereis no lugar santo; porque isto é a tua porção e a porção de teus filhos, das ofertas queimadas do Senhor: porque assim me foi ordenado" (versículos 12 e 13).


Poucas coisas há em que somos tão propensos a cair como no cumprimento do padrão divino, quando a fraqueza humana preva­lece. Somos como Davi, quando o Senhor feriu a Uza, por causa do seu pecado estendendo a mão sobre a arca. "E naquele dia temeu Davi ao Senhor, dizendo: Como trarei a mim a arca de Deus?"


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(1) Alguns poderão pensar talvez que a linguagem de Levítico 10:9 lhes proporciona ocasional condescendência nas coisas que contribuem para excitar a mente, visto que se diz "vinho nem bebida forte... bebereis, quando entrardes na tenda da congregação". A isto podemos retorquir que o santuário não é um lugar para o crente visitar ocasionalmente, mas sim, um lugar em que ele habitualmente vai servir e adorar. É a esfera em que ele deve viver e mover-se, e existir. Quanto mais perto de Deus vivemos, menos podemos passar sem a Sua presença; e ninguém que conheça o gozo profundo de ali estar poderá condescender a qualquer coisa que o prive desse lugar. Não existe dentro dos limites da terra coisa alguma que possa constituir um substituto para a mente espiritual, para uma hora de comunhão com Deus.


(1 Cr 13:12). E imensamente difícil alguém curvar-se ante o juízo divino, e, ao mesmo tempo, manter-se bem sobre o fundamento divino. A tentação está em baixar o padrão do seu alto nível para se tomar o terreno humano. Devemos precaver-nos cuidadosamente contra este mal, tanto mais perigoso quanto é certo que se reveste de uma aparência de modéstia, desconfiança e humildade.


Aarão e seus filhos, apesar de tudo que tinha acontecido, deviam comer a oferta de manjares no lugar santo. Deviam comê-la, não porque tudo tinha corrido bem, mas porque "é a tua porção", e "assim me foi ordenado". Ainda que tivesse havido pecado, contu­do, o lugar deles era no tabernáculo; e os que ali permaneciam tinham certos "deveres" baseados sobre o mandamento divino. Ainda que o homem tivesse falhado dez mil vezes, a Palavra do Senhor não podia falhar; e essa Palavra assegurava certos privilégios para todos os verdadeiros sacerdotes, que eles podiam usufruir. Os sacerdotes de Deus não deviam ter nada de comer, nenhum alimen­to sacerdotal, porque se havia cometido uma faltai Devia consentir-se que os que haviam ficado morressem de fome porque Nadabe e Abiú tinham oferecido "fogo estranho"? Não, de modo nenhum, Deus é fiel, e nunca poderá consentir que alguém esteja faminto na sua bendita presença. O filho pródigo pode vaguear, dissipar toda a sua fazenda e chegará indigência; mas a verdade permanece que "na casa de meu Pai há abundância de pão".


"Também o peito da oferta do movimento e a espádua da oferta alçada comereis em lugar limpo, t u, e teus filhos, e tuas filhas contigo; porque foram dados por tua porção, e por porção de teus filhos, dos sacrifícios pacíficos dos filhos de Israel... o que será por estatuto perpétuo... como o Senhor tem ordenado" (versículos 14 e 15). Que força e que estabilidade temos aqui! Todos os membros da família sacerdo­tal, "filhos" e "filhas", todos, qualquer que fosse a medida da sua energia ou capacidade, deviam alimentar-se do "peito" e da "espá­dua", figuras do afeto e poder d 'Aquele que é a verdadeira oferta de manjares, ressuscitado de entre os mortos e apresentado diante de Deus. Este precioso privilégio pertencia-lhes "por estatuto perpétuo, como o Senhor tinha ordenado". Isto torna tudo "seguro e firme", haja o que houver. Muitos podem faltar e pecar; podem chegar a oferecer fogo estranho, porém a família sacerdotal de Deus não pode ser privada da rica e graciosa porção que o amor divino instituiu e a fidelidade divina lhe assegura "por estatuto perpétuo".


Contudo, devemos distinguir entre os privilégios que pertenci­am a todos os membros da família de Aarão, tanto a "filhos" como a "filhas", e aqueles que só podiam ser desfrutados pelos varões dessa família. Já fizemos alusão a isto no estudo sobre as ofertas. Há certas bênçãos que são comuns a todos os crentes, simplesmente por serem crentes; mas há outras que requerem uma maior medida de conhe­cimento espiritual e energia sacerdotal para serem aprendidas e gozadas. Ora, é pior do que presunção, sim, é irreverente, pretender gozar esta mais alta medida de bênção, quando, na realidade, não a possuímos. Uma coisa é reter com firmeza os privilégios que nos são "dados" por Deus, e nunca nos podem ser tirados, e outra assumir uma capacidade espiritual que nunca chegamos a obter. Sem dúvida, devíamos desejar ardentemente a mais alta medida de comunhão sacerdotal, a mais elevada ordem de privilégios sacerdotais, mas desejar uma coisa não é o mesmo que permitir tê-la.


Uma Omissão no Serviço


Este pensamento lança luz sobre o último parágrafo do nosso capítulo. "E Moisés diligentemente buscou o bode da expiação, e eis que já era queimado; portanto, indignou-se grandemente contra Eleazar e contra Itamar, os filhos que de Arão ficaram, dizendo: Por que não comestes a oferta pela expiação do pecado no lugar santo? Pois uma coisa santíssima é e o Senhor a deu a vós, para que levásseis a iniqüidade da congregação, para fazer expiação por eles diante do Senhor. Eis que não se trouxe o seu sangue para dentro do santuário; certamente havíeis de comê-la no santuário, como eu tinha ordenado. Então, disse Arão a Moisés: Eis que hoje meus filhos ofereceram a sua oferta pela expiação de pecado e o seu holocausto perante o Senhor, e tais coisas me sucederam; se eu hoje tivesse comido a oferta pela expiação do pecado, seria, pois, aceito aos olhos do Senhora E Moisés ouvindo isto, Arão foi aceito aos seus olhos".


Ás filhas de Arão não era permitido comer da "oferta pelo pecado". Este alto privilégio pertencia só aos "filhos" e era uma figura da forma mais elevada de serviço sacerdotal. Comer da oferta pelo pecado era expressão de plena identificação como o ofertante, e isto requeria capacidade espiritual e energia de que "os filhos de Arão" eram figuras. Nesta ocasião, porém, é evidente que Arão e seus filhos não estavam na condição espiritual de se elevarem a tão alto e santo princípio. Deviam estar nessa posição, mas não estavam. "Tais coisas me sucederam", disse Arão. Era sem dúvida uma falta deplorável; mas, ainda assim, "Moisés, ouvindo isto, Arão foi aceito aos seus olhos". Vale muito mais sermos sinceros na confissão das nossas faltas e negligência do que pretendermos ter uma força espiritual que de fato não possuímos.


Assim, pois, o capítulo décimo do Livro de Levítico começa com um pecado positivo e termina com um pecado de omissão. Nadabe e Abiú ofereceram "fogo estranho" e Eleazar e Itamar mostraram-se incapazes de comer da "oferta da expiação". Para o pecado dos primeiros houve o juízo divino; para a omissão dos últimos houve indulgência divina. Não podia haver tolerância para o "fogo estra­nho". Eqüivalia a menosprezar abertamente o mandamento ex­presso de Deus. Evidentemente, há uma grande diferença entre a transgressão deliberada de um mandamento positivo e a simples incapacidade de se elevar à altura de um privilégio divino. O primeiro caso é afrontar abertamente a Deus; o último caso é a perda de uma bênção que está ao seu dispor. Não deveria ter ocorrido nem uma falta nem a outra, mas a diferença entre uma e a outra é fácil de compreender.


Que o Senhor, em Sua graça infinita, nos guarde para que sempre possamos habitar no retiro da Sua santa presença, permanecendo em Seu amor e alimentando-nos da Sua verdade. Assim seremos preser­vados do "fogo estranho" e da "bebida forte", quer dizer, de um culto falso, seja de que espécie for, e da excitação carnal sob todas as suas formas. Assim também seremos capazes de nos conduzir dignamen­te em todo o sentido na administração sacerdotal e de gozar todos os privilégios da nossa posição de sacerdotes. A comunhão de um crente é como uma planta mimosa; a qual é facilmente magoada pelas bruscas influências de um mundo mau. Desenvolver-se-á sob a ação propícia do ar do céu; mas contrai-se ao primeiro sopro glacial. Recordemos estas coisas e procuremos estar sempre no recinto sagrado da presença divina. Ali tudo é puro, seguro e feliz.


CAPÍTULO 10 do "Estudo sobre o Lívro de Levítico" da coleção "Notas sobre o Pentateuco" de:

C. H. Mackintosh

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“Todo-Poderoso , aquele que era , que é, e que há de vir.”
“Ora, vem, Senhor Jesus!”

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