terça-feira, 12 de agosto de 2008
Parte 4
2) A autoridade
Considerando mais uma vez o contexto de Mateus 18:20, vemos que o Senhor Jesus Cristo estava dando instruções sobre como agir em caso de pecado entre dois irmãos.
Como primeiro passo, o irmão ofendido deveria ir ao outro e tratar do problema pessoalmente. Se isto não produzisse o resultado desejado, então deveria levar com ele mais uma ou duas pessoas, tentando novamente fazer as pazes. Se esta tentativa também fosse infrutífera, então o irmão ofendido deveria levar o caso ao conhecimento da igreja, a fim de que esta pudesse interferir em busca de uma solução. Se, porém, o ofensor não ouvisse a igreja, ele teria de ser considerado como gentio ou publicano, isto é, como um que não pertence à igreja.
Note bem este processo: a mais alta autoridade em casos disciplinares é a igreja local. Se o ofensor não aceitar a decisão da igreja, não há outro recurso senão o de considerá-lo como gentio ou publicano. O Senhor não indicou nenhuma outra autoridade superior à igreja local.
Continuando, o Senhor mostrou a fonte desta autoridade. Veja o versículo 18: “Em verdade vos digo que tudo o que ligardes na terra, terá sido ligado no céu e tudo o que desligardes na terra, terá sido desligado no céu”. Observe bem o tempo dos verbos. A ação da igreja é posterior à ação no céu. Quando a igreja local exerce a sua autoridade em disciplina, agindo conforme as instruções da Palavra de Deus, ela está fazendo apenas aquilo que Deus já fez. Não é, como muitos pensam, que a igreja age e que Deus ratifica a sua ação; é o contrário: a igreja sabe o que Deus pensa a respeita do problema específico que ela está tratando (através do ensino da Sua Palavra), e ela age de acordo. O que ela liga ou desliga aqui é o que já foi ligado ou desligado no céu. Isto é, a sua autoridade é uma autoridade delegada e, portanto, limitada. Ela simplesmente põe em prática as instruções da Palavra escrita de Deus.
O versículo 19, porém, mostra um caminho mais excelente. Maior do que o poder da disciplina é o da intercessão. Se a igreja tem esta autoridade de julgar e disciplinar, dois dentre os seus membros (no mínimo) têm o privilégio de interceder e conseguir até a recuperação do ofensor.
Esta verdade da autoridade de cada igreja local é lógica e essencial se lembrarmos do versículo 20: “Onde estiverem dois ou três reunidos em Meu nome, aí estou Eu no meio deles”. Uma igreja local não é simplesmente um grupo de pessoas; é um grupo de pessoas reunidas em torno do Senhor Jesus Cristo. Ele está presente e nEle reside toda a autoridade no céu e na terra (Mateus 28:18). Mesmo se for uma igreja de apenas duas ou três pessoas, o Senhor está no meio e, portanto, aquela igreja tem toda a autoridade para resolver todos os problemas que surgirem no seu meio.
Se uma igreja se submete a uma autoridade fora de si mesma, ela está negando a autoridade do Senhor Jesus e é por esta razão que a Bíblia não reconhece nenhuma autoridade superior à igreja local. Não pode haver um “presbitério regional”, um “sínodo”, nem tão pouco um “ancião” responsável por várias igrejas. Nem missionário, nem pastor, nem cúpula alguma podem intervir nas decisões de uma igreja local, pois o Senhor mesmo está presente nela.
Porém, a limitação desta autoridade também é importante. Cada igreja tem autoridade para julgar todos os casos que surgirem no seu meio e ninguém fora daquela igreja tem o direito de intervir; da mesma forma, a igreja local não tem autoridade alguma fora do seu próprio meio. Quando surgiu um problema na igreja em Corinto, Paulo exortou-a a resolvê-lo. Não indicou um Tribunal Superior à igreja local; ela mesma teria de resolver o caso.
Na sua primeira carta àquela igreja, portanto, Paulo disse: “Em Nome do Senhor Jesus Cristo, juntos vós e o meu espírito, pelo poder de nosso Senhor Jesus Cristo, seja entregue a Satanás” (I Coríntios 5:4-5). A igreja em Corinto tinha autoridade para reunir-se para julgar aquele pecado que aparecera no seu meio. Nem a presença dum apóstolo daria mais autoridade; ela poderia agir com o poder do Senhor Jesus Cristo.
Porém, no mesmo capítulo vemos a limitação desta autoridade, pois lemos no versículo 12: “Que tenho eu em julgar também os que estão de fora? Não julgais vós os que estão dentro?” A autoridade da igreja em Corinto limitava-se àqueles que estavam “dentro”, isto é, aos seus próprios membros.
R. E. Watterson
Fonte: Site, Editora Sã Doutrina
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