3ª Estação - Etã - Parte 10

sexta-feira, 2 de outubro de 2009


 

As 42 Jornadas no Deserto

3ª Estação - Etã - Parte 10
Texto: 2 Co 12.2-7 

Por Luiz Fontes


“Conheço um homem em Cristo que, há catorze anos (se no corpo, não sei; se fora do corpo, não sei; Deus o sabe), foi arrebatado até ao terceiro céu. E sei que o tal homem (se no corpo, se fora do corpo, não sei; Deus o sabe) foi arrebatado ao paraíso e ouviu palavras inefáveis, de que ao homem não é lícito falar. De um assim me gloriarei eu, mas de mim mesmo não me gloriarei, senão nas minhas fraquezas. Porque, se quiser gloriar-me, não serei néscio, porque direi a verdade; mas deixo isso, para que ninguém cuide de mim mais do que em mim vê ou de mim ouve. E, para que me não exaltasse pelas excelências das revelações, foi-me dado um espinho na carne, a saber, um mensageiro de Satanás, para me esbofetear, a fim de não me exaltar” - 2Co 12.2-7.

Neste maravilhoso texto há algumas verdades que precisamos estudar e entender na experiência de Paulo. Dando mais um passo, vamos ver o que tocou profundamente a vida deste Apóstolo. Veja que ele diz assim: conheço um homem em Cristo”. Esta frase em Cristo” nos dá a definição do que é ser cristão. Então, ser cristão é ser um homem em Cristo. O que é a vida cristã? A vida cristã é a vida de um homem em Cristo. Esta frase é a chave para o fundamento bíblico, para todos os aspectos da vida cristã. Paulo está descrevendo a si mesmo como um homem em Cristo. Esta se tornou a frase favorita do Apóstolo Paulo. Quando estudamos a vida de Paulo, vamos descobrir o que é um homem “em Cristo”. Nunca poderemos viver uma vida cristã a não ser que tenhamos uma vida cristã para viver. Graças ao Senhor, porque já temos esta vida! Foi a mesma vida vivida por Paulo. Mas precisamos descobrir o segredo para que haja desenvolvimento, crescimento e maturidade nesta vida, para aplicarmos tudo isto em nós mesmos.
A primeira importante lição na vida de Paulo, é que ele começou a sua vida espiritual através de uma visão. Depois daquela visão, ele teve várias visões e revelações. E aqui nós precisamos ver três coisas fundamentais:

Primeiro - Para Paulo, visão não era apenas algo que ele viu, mas algo que ele percebeu no seu espírito.
Segundo - Em At 26.19, Paulo diz para o rei Agripa que ele não foi desobediente à visão celestial. Esta visão que ele teve em Atos 9:3-5, nos ensina o que é o chamamento. E que este chamamento é procedente da visão celestial.
Terceiro - A nossa visão deve se tornar a nossa vocação.

Quando lemos At 9.4, vemos que Paulo ouviu uma voz que disse:

“Saulo, Saulo, por que me persegues?”.

Este é um duplo chamamento. Ora, o que é isto? O que aconteceu com Paulo no caminho de Damasco foi que ele teve uma visão celeste e toda a sua vida, a partir dali, foi governada e controlada por aquela visão. O que aconteceu com Paulo deve acontecer conosco! Devemos nos firmar em alguns princípios importantes relacionados com a visão celeste.
Vejamos duas coisas essenciais que Paulo viu: Ele viu nesta visão em Atos 9, que Jesus, a quem os Judeus mataram, era o Supremo Jeová a quem ele tanto cria e que durante toda a sua vida o servia. E ele viu que Cristo e a Igreja são um!
Então, primeiro vejamos a questão do duplo chamamento. Este foi um assunto que muitos eruditos consideraram, pois, no duplo chamamento poderemos perceber uma disposição divina sobre a vida de alguns indivíduos, na Sua Palavra, e que estabelece princípios espirituais para a edificação da Igreja. Esse duplo chamamento: Saulo, Saulo”, é espiritual, é para nos revelar a excelência da grandeza na expectativa celestial no nosso chamado, da nossa vocação em Cristo.
Na Bíblia, sete pessoas tiveram este duplo chamamento. Quatro no Velho Testamento e três no Novo Testamento. No Velho Testamento, foram: Abraão (Gn 22.11), Jacó (Gn 46.2), Moisés (Ex 3.4) e Samuel (I Sm 3.4), e no Novo Testamento: Marta (Lc 10.41), Pedro (Lc 22.31) e Saulo (At 9.4). São ao todo sete duplos chamamentos. Sete na Bíblia significa “perfeição”. No aspecto espiritual podemos chegar à seguinte conclusão: quatro é o número da terra e três é o número do céu. Quando a terra está coroada pelo céu, então há perfeição. É isto que o nosso Bendito, Eterno e Soberano Pai deseja nos falar. Mas, precisamos notar algumas particularidades, algumas verdades impressionantes.
Lucas, em At 9.4, usou um termo muito forte na língua grega para falar daquele “cair” de Paulo. Ele disse:

“e, caindo por terra, ouviu uma voz que lhe dizia: Saulo, Saulo, por que me persegues?”.

Observemos o termo: caindo”. No grego, esta palavra é pipto, que significa cair dominado pelo terror ou espanto. Também pode ser usada para especificar o desmembramento de um cadáver pela decomposição. Isto significa chegar ao fim, desaparecer, ser destituído de poder pela morte. Então, quando ele ouve aquela voz, ele pergunta:

“... Quem és tu Senhor?”.

E diz o Senhor:

“... Eu sou Jesus a quem tu persegues” – At 9.5.

Saulo tinha tanta convicção a respeito de quem falava que ele faz uma pergunta usando uma expressão impressionante. Ele usa a palavra Yavé, que é o nome de Deus no Velho Testamento. O Deus da Aliança. E Jeová responde: “Eu Sou Jesus”. Quem é Jesus? É Yavé! É o Deus encarnado! Esta é a primeira parte da resposta.
Mas, aquela voz continua dizendo: “... a quem tu persegues. Esta verdade governou toda a visão e o ministério de Paulo.
Em At 26.19, Paulo diz:

Pelo que, ó rei Agripa, não fui desobediente à visão celestial”.

Então, percebemos que Paulo teve duas visões ao mesmo tempo. A primeira foi que Jesus é Deus; Jesus é Jeová - Eu Sou Jesus...”. Quando o Senhor Jesus disse em Jo 10.20, que Ele era o Filho de Deus, os fariseus falaram que ele tinha demônio. Paulo era um desses fariseus que não podia admitir isso: Yavé, o Deus encarnado? Isto era um verdadeiro absurdo para Paulo. A segunda visão foi que ele entendeu que Cristo e Igreja são um - “... a quem tu persegues”. Por que Paulo não estava perseguindo a Jesus, Paulo estava perseguindo a Igreja de Jesus. Para entendermos esta verdade de forma mais clara, precisamos compreender quatro proposições:

Primeira - Cristo está no Seu Corpo, que é a Igreja;
Segunda - O Corpo de Cristo é um com Cristo;
Terceira - Quem toca o Corpo de Cristo, a Sua Igreja, toca em Cristo;
Quarta - Cristo e a Igreja são um.

Paulo viu as duas coisas ao mesmo tempo. Jesus é Deus e o Corpo de Cristo (Sua Igreja) é o próprio Cristo. É por isso que em 1 Co 12.12, ele diz:

Porque, assim como o corpo é um e tem muitos membros, e todos os membros, sendo muitos, constituem um só corpo, assim também com respeito a Cristo”.

Ele usa uma frase tremenda “... assim também com respeito a Cristo”. O quanto isso é impressionante!
A palavra “Igreja” significa ekklesia na língua grega. Esta palavra é proveniente de dois vocábulos: o primeiro é ek, que significa pôr para fora, cortar. E a segunda palavra é klesia, que vem do verbo kaleu, que significa chamar. De onde vem a palavra parakaleu, parakletos, que se refere ao Espírito Santo, Aquele chamado para estar ao nosso lado. Então esta palavra ekklesia significa que nós somos um povo amputado, cortado. Eu e você fomos amputados do mundo.
Quando o Senhor Jesus nos salvou - nos chamou pelo Seu Evangelho e o recebemos como nosso Salvador - nós fomos cortados, amputados do mundo. Antes, nós e o mundo, éramos como chave e fechadura; combinávamos perfeitamente. Era só dá uma voltinha e todas as portas se abriam. Depois que cremos no Senhor, Ele quebrou os dentes da chave. Agora podemos até tentar colocar a chave na fechadura, e ás vezes, até tentamos para ver se ainda funciona, mas quando colocamos, ela roda em falso; não abre mais. Isto acontece porque no mundo não encontramos mais satisfação. Os “amigos” que eram tão preciosos, hoje não são mais. Os lugares que eram tão queridos, hoje não dão mais prazer. As coisas que produziam tanta satisfação, hoje não significam mais nada. Por quê? Porque o Senhor nos cortou, nos amputou do mundo.
O Senhor Jesus disse:

“Eu sou a videira, vós, os ramos” – Jo 15.5.

Ele usou esta figura para mostrar a identificação da Igreja com Ele mesmo. O Senhor disse que nós somos os ramos e Ele é a videira. Jesus disse que Nele nós somos um. Ele não falou: Eu sou o tronco e vocês os ramos. O Senhor falou que era a árvore - Eu sou a videira. Videira é a árvore toda; e onde ficamos nisso? Nós somos os ramos, ou seja, somos a videira também.
Há um exemplo maravilhoso desta situação, com relação a nossa vida no mundo, que está no Livro de Números. Balaão sobe a primeira vez no monte, contratado por Diego, profeta mercenário, para amaldiçoar o povo de Deus; essa é a história. Então ele vai todo animado, com dinheiro no bolso, sobe no monte e vai amaldiçoar o povo de Deus. Quando ele vai amaldiçoar, o Espírito de Deus desce sobre ele. Ele acha que o lugar é que está errado e vai tentar subir do outro lado do monte. Depois acha que o sacrifício é que está errado. Acredita que deve oferecer um sacrifício melhor. E as três vezes que ele tenta amaldiçoar, não consegue. Então, enfim, ele abençoa. Em Nm 23.9, Balaão diz:

Pois do cimo das penhas vejo Israel e dos outeiros o contemplo: eis que é povo que habita só e não será reputado entre as nações.”

Significa que somos um povo separado, um povo abençoado, um povo que habita só. Precisamos saber que só temos uns aos outros. Além do nosso Senhor Jesus, nós só temos uns aos outros para contarmos; não podemos contar com ninguém mais. Somos um povo separado, exclusivo; um povo exclusivamente de Cristo. Precisamos dar valor a ekklesia; ao corpo de Cristo. Por que nós somos cortados; somos um povo que habita só neste mundo. O Senhor Jesus disse que iria edificar a Sua Igreja; e Ele está edificando. Graças a Deus que a Igreja não é uma invenção humana. A Igreja é procedente de Cristo; ela existe para Cristo. De acordo com a glória do propósito de Deus, os homens podem colocar o nome que quiserem, mas a Igreja é o povo de Deus. Os homens podem criar todo o tipo de instituição religiosa, mas a Igreja não é isso. A Igreja é um organismo vivo; é constituída de pessoas e não de pedra, areia, cimento e ferro. A Igreja somos nós, e Deus vai consumar o Seu plano na terra através da Igreja. Eu e você precisamos ser claros quanto a isso. Foi isso que Paulo viu. Foi esta visão que o contagiou; foi esta visão que o capturou; foi esta visão que o transformou; foi esta visão que governou toda a sua vida. Isto tem que nos tocar profundamente. Se não entendermos isto, não vamos compreender nada em relação à edificação de Deus.
Em Ef 3.10-11, Paulo diz:

para que, pela igreja, a multiforme sabedoria de Deus se torne conhecida, agora, dos principados e potestades nos lugares celestiais, segundo o eterno propósito que estabeleceu em Cristo Jesus, nosso Senhor”.

Neste texto vemos que o Senhor Jesus vai completar o Seu propósito. Ele vai pegar a Igreja - isto é, homens que eram depravados, corrompidos, corroídos, degenerados; pessoas como nós; mas agora, em Cristo, perdoados, justificados, santificados e um dia seremos glorificados - e colocar na vitrine do universo, para que anjos e demônios olhem. Anjos como diz Pedro, que anelam perscrutar essa profundidade do significado do Evangelho, como foi revelado em Cristo a nós. Os anjos vão ver a beleza do Evangelho de Cristo e a Igreja. Essa é a grande Salvação de Hb 2.3. Imaginem! Você e eu, que pela graça, cremos em Cristo, estaremos um dia lá. Anjos e demônios estarão olhando para nós e contemplando a profundidade da beleza, da graciosidade do trabalho de Deus em seres como nós, que estavam tão perdidos; perdidos por natureza. Esse é o trabalho da Graça. Por isso, eu e você precisamos compreender que esta Visão da Igreja dada a Paulo é impressionante, é assombrosa, extraordinária, estupenda. E essa Visão, nós também temos que ter.
Que Deus, em Cristo Jesus, prossiga ministrando, Ele mesmo, ao nosso coração.




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“Todo-Poderoso , aquele que era , que é, e que há de vir.”
“Ora, vem, Senhor Jesus!”

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