5ª Estação – Mara - Parte 03

sábado, 3 de outubro de 2009


 

As 42 Jornadas no Deserto

5ª Estação – Mara - Parte 03
Textos: Fp 1.29; Cl 1.24; 1 Pd 2.21; 2 Co 1.7

Por Luiz Fontes

Estamos estudando a quinta das quarenta e duas estações da peregrinação de quarenta anos do povo de Israel pelo caminho do deserto. Lembremos que em Mara os israelitas murmuraram por causa das águas amargas. Mas Moisés clamou ao Senhor, e o Senhor disse para Moisés pegar um lenho, um pedaço de árvore e jogar dentro da água. E quando aquele lenho foi mergulhado na água, aquelas águas se tornaram doce. Aqui nós somos conduzidos pelo Espírito Santo, na Palavra, a compreender a Obra da Cruz em nós, a entender a questão do nosso sofrimento como tendo fundamento na cruz.
Já vimos também que se estudarmos a raiz da palavra Esmirna, chegaremos a Mara. Esmirna vem de “mirra ou morra” que é Mara. A mirra é uma especiaria cuja fragrância é doce, a qual, em figura, denota sofrimento. Esmirna nos fala da Igreja perseguida, sofredora; uma doçura da fragrância da vida de Cristo.
O sofrimento é uma coisa cíclica; algo que se sucede em intervalos regulares de tempo. Todos nós, na vida cristã, experimentamos o aspecto do sofrimento. Independente do tempo, independente de qualquer coisa, todos nós passamos por algum aspecto de sofrimento, de tristeza, de amargura; todos nós passamos por Mara. Há vários aspectos de sofrimento que nós como filhos de DEUS iremos passar enquanto estivermos nesse corpo de carne, nesse tempo que vivemos. Há sofrimentos físicos, emocionais e espirituais.
Tiago diz no capítulo 5 e versículo 10 de sua carta:

“Irmãos, tomai por modelo no sofrimento e na paciência os profetas, os quais falaram em nome do SENHOR”.

Mas quando estudamos sobre Esmirna notamos que o Senhor se apresenta como o primeiro e o último. Aqui podemos ver duas coisas: o Senhor Jesus é sempiterno e imutável. Em qualquer situação, ou em qualquer ambiente, Ele permanece o mesmo, nada poderá precedê-Lo. Tudo tem um propósito Nele e tudo é para Ele. Portanto, os sofrimentos revelam e manifestam o caráter da Igreja. É isso que nós aprendemos na experiência de Esmirna.
Agora, precisamos entender que fomos chamados a sermos conformados com o sofrimento de Cristo:
Em Filipenses 1.29 Paulo disse:
“Porque vos foi concedida a graça de padecerdes por Cristo e não somente de crerdes nele”.

Colossenses 1.24 diz:

“Agora, me regozijo nos meus sofrimentos por vós; e preencho o que resta das aflições de Cristo, na minha carne, a favor do seu corpo, que é a igreja”.

1 Pedro 2.21 diz:

“Porquanto para isto mesmo fostes chamados, pois que também Cristo sofreu em vosso lugar, deixando-vos exemplo para seguirdes os seus passos”.

Vamos atentar ainda para 2 Coríntios 1.7:

“A nossa esperança a respeito de vós está firme, sabendo que, como sois participantes dos sofrimentos, assim o sereis da consolação”.

Aqui nesse texto encontramos duas palavras que nos introduz no cerne desse assunto. A primeira é: “participantes”, que corresponde à palavra grega koinonos, e significa associado; que compartilha. A segunda é: “consolação”, que corresponde à palavra grega paraklesis que significa aproximação. Somos participantes de Cristo Jesus quando passamos por provas e aflições; mas, graças a Deus, também vemos que através das lutas e tribulações, das situações amargas como em Mara, somos conduzidos, convocados para nos aproximarmos mais e mais d’Ele.
Em Hebreus 2.10, o autor dessa epístola disse:

“Porque convinha que aquele, por cuja causa e por quem todas as coisas existem, conduzindo muitos filhos [à] glória, aperfeiçoasse, por meio de sofrimentos, o Autor da salvação deles”.

 Os sofrimentos, tribulações e tantas coisas exteriores que nos acontecem, tem em vista o Reino de Deus.
Nesse texto de Hebreus 2.10, em conformidade com o grego, a preposição primária “à”, na frase “à glória,” é uma preposição que indica algo impressionante. Ela significa: “para dentro,” “até,” “em direção a.” Para entender a riqueza desse texto é necessário extrair algumas lições:

1 - A palavra “conduzir”, significa “ir junto”, ou “dentro de algo”. A Bíblia diz que nós estamos em Cristo. Outro significado dessa palavra é “dar acesso”, “dando-lhe direção”, “guiar”, “tomar conta”, “ser responsável”.
 
2 - Uma das preposições que sugere aqui nesta palavrinha “à” é “até”. Isso nos mostra que Deus nunca desistirá de nós, nunca nos deixará, nunca nos abandonará.

3 - Outra palavra que nos revela a riqueza do operar de Deus em nós aqui nesse texto é “aperfeiçoasse”. É interessante notar que o verbo “aperfeiçoar” ocorre nove vezes nesta maravilhosa epístola aos Hebreus: (2.10; 5.9; 7.19,28; 9.9; 10.1,14; 11.40; 12.23). Esse verbo ocorre 24 vezes em todo o Novo Testamento. O aperfeiçoamento dos santos é uma grande ênfase da Epístola aos Hebreus.
Veja o versículo 14 de Hebreus 10:

“Porque, com uma única oferta, aperfeiçoou para sempre quantos estão sendo santificados”.

Precisamos ver que Deus está realizando uma Obra por meio do sofrimento em nós para nos levar à maturidade, para que Ele complete e alcance em nós o que Ele quer. Veja que o escritor aos Hebreus encerra o versículo 10 do capítulo 2, dizendo que o Senhor Jesus é o autor da Salvação.  Ora, a frase “Autor da Salvação” é uma frase que se destaca dentro do contexto dessa Epístola. Em três lugares ela ocorre para demonstrar a realidade do Supremo propósito de Deus para com aqueles que Ele escolheu para Sua glória. Então o Senhor tem permitido o sofrimento em nós porque Ele tem em vista em nós a Sua Glória, o cumprimento da Sua Vontade, aquilo que Ele realmente deseja e quer. Os sofrimentos têm em vista a nossa glorificação com a Pessoa do Senhor Jesus. Veja que no texto de Romanos 8.29, você ler: “... para serem conformes à imagem de seu Filho...”.
Em Romanos 8.18-23 Paulo diz:

 “Porque para mim tenho por certo que os sofrimentos do tempo presente não podem ser comparados com a glória a ser revelada em nós. A ardente expectativa da criação aguarda a revelação dos filhos de Deus. Pois a criação está sujeita à vaidade, não voluntariamente, mas por causa daquele que a sujeitou, na esperança de que a própria criação será redimida do cativeiro da corrupção, para a liberdade da glória dos filhos de Deus. Porque sabemos que toda a criação, a um só tempo, geme e suporta angústias até agora. E não somente ela, mas também nós, que temos as primícias do Espírito, igualmente gememos em nosso íntimo, aguardando a adoção de filhos, a redenção do nosso corpo”.

Não é nenhum exagero, nem mesmo euforia sensacionalista, é com sinceridade e reverência que digo que nós, aqueles os quais Deus escolheu, predestinou para serem conforme a imagem do Seu Filho, Ele chamou, justificou e também glorificou. É isso que você vai ler nestes textos, a partir do versículo 24 até o versículo 30 de Romanos, capítulo 8:

“Porque na esperança, fomos salvos. Ora, esperança que se vê não é esperança; pois o que alguém vê, como o espera? Mas, se esperamos o que não vemos, com paciência o aguardamos. Também o Espírito, semelhantemente, nos assiste em nossa fraqueza; porque não sabemos orar como convém, mas o mesmo Espírito intercede por nós sobremaneira, com gemidos inexprimíveis. E aquele que sonda os corações sabe qual é a mente do Espírito, porque segundo a vontade de Deus é que ele intercede pelos santos. Sabemos que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito. Porquanto aos que de antemão conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos. E aos que predestinou, a esses também chamou; e aos que chamou, a esses também justificou; e aos que justificou, a esses também glorificou”.

A referência a nossa glorificação final e definitiva é algo que está no coração de Deus, é algo que toca a glória do Seu propósito. Por isso não é nenhum exagero dizer que Deus visa ter em nós a Sua glória por meio dos nossos sofrimentos. Ele quer ser glorificado nisso! E muitas vezes não compreendemos porque Deus nos leva até Mara. Porque Deus nos leva a uma experiência amarga, difícil.
O Senhor Jesus não nos ensinou a alegrar-se no fato dos sofrimentos em si. Não é isso que a Bíblia ensina. As palavras do Senhor quando trata deste assunto não é que Ele deseja que venhamos a nos alegrar no sofrimento em si. O que está em evidência no ensino e nas palavras do Senhor Jesus e dos demais Apóstolos quanto aos sofrimentos é que o cristão sofre por amor a causa de Cristo, porque isso prova quem ele é, e a quem ele pertence.
Veja o que Pedro diz em sua Primeira Epístola:

“Ora, o Deus de toda a graça, que em Cristo vos chamou à sua eterna glória, depois de terdes sofrido por um pouco, ele mesmo vos há de aperfeiçoar, firmar, fortificar e fundamentar” - 1 Pd 5.10.

 Creio que não podemos ignorar algumas lições as quais nosso querido Pai Celeste deseja nos ensinar nesse precioso texto:
A primeira lição que aprendemos é que diante da glória da eternidade, nossos sofrimentos não significam nada. Somos extremamente carentes de ter uma revelação da glória da eternidade revelada e manifestada no nosso espírito.
A segunda lição que precisamos aprender é que nesse texto está na frase “o Deus de toda graça” – essa frase é uma redundância apostólica.  Isso indica que Deus fez algo que está além de toda cogitação, de toda comparação, algo que ultrapassou todos os limites da imaginação humana, algo incomensurável. É isso que essa frase “o Deus de toda graça”, no texto, revela para nós.
A terceira lição é que Pedro diz que em Cristo nos chamou. Quando Deus nos chamou a existência Ele nos viu primeiramente em Cristo para o propósito da Sua eterna glória e graça. Nessa única frase Pedro nos desvenda o glorioso propósito eterno de Deus quanto a nossa eleição eterna.
A quarta lição está numa preposição primária que em português aparece na forma de uma crase ou fusão da preposição a com o artigo definido feminino a. Na língua grega é a preposição primária eis. 
Essa preposição primária significa: “em”, “até”, “em direção a”, “para dentro de”.  Veja algo impressionante aqui: Deus nos chamou “em Cristo” – isso está na eternidade passada; mas ainda diz que Ele está nos chamando “até” - isso nos revela a obra que Ele está fazendo em nós, isto é, uma obra incessante. E o sofrimento, isto é, passar por Mara é algo que Deus requer. Passar por Mara é uma exigência divina, Ele têm um propósito nisso. Veja que “até” indica que Ele só irá parar essa obra quando Ele alcançar em nós o Seu propósito. Podemos ver que essa preposição primária na língua grega significa “em direção a” - isso implica a glória, porque o alvo de Deus em nós é nos conduzir à Sua majestosa glória eterna em Cristo.
Por último, podemos ver que essa preposição primária indica algo muito mais impressionante ainda, que é “para dentro”. Pedro diz que Deus nos chamou para dentro da sua eterna glória. Às vezes eu chego a pensar que as mais completas e estupendas verdades cristãs estão nestas pequenas preposições bíblicas.
A quinta lição que aprendemos é que as nossas lutas por causa de Cristo são limitadas. Pedro diz: “... por um pouco...”. É algo que Ele permite por um pouco. Veja que o povo de Israel não permaneceu em Mara, eles tiveram que sair e prosseguir para uma experiência muito mais gostosa. É isso que significa a vida cristã. É por um pouco, os seus sofrimentos. Suas lutas têm um propósito específico, limitado e definido.
Na sexta lição, que é a última, vemos o resultado dos sofrimentos os quais passamos por amor a Cristo. Paulo nos diz em Romanos 8.28: “... todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus...”. Esse não é o nosso bem-estar, é o bem do propósito de Deus, no qual todas as coisas cooperam para esse bem. Veja que Pedro diz qual é o resultado que Deus irá alcançar: Primeiro, ele diz que Ele vai nos aperfeiçoar. Aqui o vocábulo grego é katartizo, que significa “preparar”, “equipar”, “colocar em ordem”, “ajustar para si mesmo”. Deus permite em nós o sofrimento para nos preparar, para colocar em ordem algumas coisas dentro de nós. Ele está fazendo também isso tendo em vista Ele mesmo em nós. Pedro diz: para “firmar”; no grego é sterizo, que significa “tornar estável”, “tornar firme”, para que eu e você não sejamos vacilantes. Depois, Pedro disse para “fortificar” – No grego é sthenoo, que significa: “tornar forte”, “de qualidade, alguém que não hesita, que não desiste; persistência”. E por último para “fundamentar”, que no grego é themelioo, que significa “colocar fundamento”, “tornar estável”, “estabelecer”.
Paulo escrevendo aos Coríntios em sua Segunda carta, ele disse:

“Porque a nossa leve e momentânea tribulação produz para nós eterno peso de glória, acima de toda comparação, não atentando nós nas coisas que se vêem, mas nas que se não vêem; porque as que se vêem são temporais, e as que se não vêem são eternas” - 2 Co 4.17,18.

Eu quero fazer duas considerações nesse texto, para compreendermos algumas coisas importantes dentro do contexto daquilo que tenho o encargo do Senhor nessa hora de compartilhar sobre aqueles que sofrem por aqueles que estão passando por uma experiência como em Mara, experiências amargas por causa de Cristo. Então por causa de Cristo esses sofrimentos têm significado, não é por que sofremos é para que!
Então Paulo diz aqui que o sofrimento “produz”. No grego esse vocábulo é katergazomai que significa “realizar”, “executar”, “conquistar”, “modelar”. Essa palavra significa que algo está sendo realizado além da medida em nossas vidas. Diz também “acima de toda comparação” – o vocábulo grego usado aqui é upérbole. Literalmente traduzindo é de “excesso em excesso”. Trata-se de uma magnitude excessivamente profunda. Nós não devemos procurar o sofrimento. Quando ele vier, é uma conseqüência de termos escolhido o Senhor e Sua justiça; e se a acusação que os homens lançarem sobre qualquer um de nós simplesmente toca a nossa posição em Cristo nós devemos permanecer firmes Nele sabendo que tudo isso tem um propósito Dele em nós. Propósito da sua Cruz em nós. Da Cruz que nós escolhemos viver.
Isso é que o Senhor deseja falar a cada um de nós. E que Ele nos abençoe mais uma vez com a sua doce, rica e santa Palavra.



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“Todo-Poderoso , aquele que era , que é, e que há de vir.”
“Ora, vem, Senhor Jesus!”

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